do comércio europeu
de escravos de África.
Comércio de escravos e
racismo:
o berço do capitalismo
de
Mário Sousa
Publicado em 1997 em sueco no jornal Proletären, Suécia.
Tradução do autor, 2013
Umas palavras do autor.
Nos
princípios do decénio de 1960 começou a ser publicada literatura de autores de
diferentes continentes sobre a história da África e as relações Europa-África.
Esses autores atacaram e destruíram preconceitos racistas e deram ao mundo uma
imagem nova do continente africano e dos seus povos. Escritores como Basil Davidson, Charles R. Boxer, Walter Rodney, José Capela e muitos outros puseram pela primeira vez à disposição
do público, a verdade sobre o colonialismo e o comércio de escravos de África.
Mas mais de trinta anos passaram desde que estes livros foram publicados e os
conhecimentos então actuais estão agora muitas vezes bem reduzidos.
O “Comércio de escravos e racismo: o berço
do capitalismo” é baseado
nesses livros e outros estudos e tem como fim dar uma descrição do comércio de
escravos em África – a maior imigração da história da humanidade – e fazer que
o leitor se interesse e continue a aumentar os seus conhecimentos sobre o tema.
Esses conhecimentos são importantes para todo aquele que se quiser orientar nas
lutas politicas do mundo em que vivemos e sobretudo na luta contra o racismo. O
papel da igreja cristã aqui revelado é importante para a explicação da vitória
dos negreiros e colonialistas e do aparecimento do racismo no mundo.
Uma parte
do artigo está talvez muito dedicada ao papel de Portugal em África. A razão
disso é evidente, os portugueses foram os primeiros europeus a chegarem a
África ao sul das Canárias, explorando sozinhos grandes partes das costas africanas
durante quase um século.
O “Comércio de escravos e racismo: o berço
do capitalismo” foi
escrito para o jornal Comunista sueco “Proletären” como uma série de 7 artigos
em Julho de 1997. A tradução para português não é da melhor qualidade. Se alguém
com bons conhecimentos da língua portuguesa quiser melhorar a nossa tradução
aqui fica o nosso profundo agradecimento.
Mário Sousa
mario.sousa@telia.com
Para a história do tráfico europeu de escravos de
África.
Comércio de escravos e racismo:
o berço do capitalismo
Foram caçados como
animais, aprisionados aos milhares, marcados com ferros em brasa, vendidos,
transportados sobre o oceano Atlântico e vendidos mais uma vez, em leilão em
praça pública, para o trabalho escravo nas minas e plantações no continente americano.
Falamos dos 50
milhões de africanos que num período de 450 anos – a partir de meados de 1400
até a meados de 1900 – foram vítimas do comércio europeu de escravos.
No
jornal sueco “Proletären”, do Partido Comunista – KPML(r), no verão de 1997, Mário
Sousa escreveu a história do comércio de escravos - como o comércio de seres
humanos esteve na origem da riqueza e do capitalismo na Europa e como destruiu civilizações
e culturas superiores desenvolvidas em África.
É uma história
dramática e terrível, com muitas vítimas e muitos criminosos. O cristianismo
joga um papel especial e pouco lisonjeiro no contexto.
A Igreja Cristã,
Católica e Protestante, abençoou o comércio de escravos. ”Cada um que participar desta guerra receberá o perdão de todos os seus
pecados”, como está escrito na bula Papal. E não só. A Igreja também
participou activamente no comércio de escravos.
Da mesma maneira
também todas as casas reais da Europa investiram e ganharam muito dinheiro com
o comércio esclavagista.
Também a casa real
da Suécia. O facto é que a actual Coroa sueca, herdeira dos Bernadottes,
através do seu ancestral o rei Karl XIV Johan, possuía enormes rendas do
comércio de escravos na Índias Ocidentais.
”Cada um que participar desta guerra
receberá o perdão de todos os seus pecados…”
Papa Eugénio IV, 1441.
O
Infante D. Henrique e as caravelas
Tudo começou no ano
de 1441. Antes desta data e durante muitos anos já o comércio de escravos era
um empreendimento com bons lucros em todo o continente europeu. Os ricos na
Europa compravam escravos, brancos e negros, aos negreiros do norte da África,
para trabalhos nas propriedades rurais e em serviços domésticos. Por seu lado
os europeus por exemplo de Veneza e Génova, vendiam escravos cristãos aos
monarcas do Egipto e de outras nações do norte de África. Ninguém tinha poder
ou queria terminar com o comércio de seres humanos. Até mesmo reis europeus
cristãos com escravos cristãos.
Os Papas Clemente V
e Martinho V ameaçaram com excomunhão, expulsão da igreja e do reino dos céus,
a todos aqueles que vendessem escravos cristãos aos ”infiéis”. Mas, as ameaças
dos papas não deram resultado.
Mas em 1441 ocorreu
algo que iria mudar o rumo da história para todo o continente africano. O
príncipe Infante D. Henrique despachou de Portugal um navio sob o comando de
Antão Gonçalves com ordens de velejar ao longo da costa atlântica de África,
passar o cabo Bojador e encher os porões com peles e óleo de leão-marinho. A
tarefa foi cumprida por Antão Gonçalves a contento e com boa margem de
tempo.
Mas Antão Gonçalves
não ficou por aí. Há tempos que desejava subir no conceito do seu amo, e por
isso mesmo queria levar para Portugal algo especial para lhe dar como presente.
Antão Gonçalves decidiu desembarcar na costa e aprisionar africanos para levar
para Portugal como escravos. Desembarcou com nove homens da guarnição e iniciou
a procura. Penetraram uma longa distância na terra africana mas sem resultado.
Quando os portugueses
já tinham desistido do empreendimento e voltavam para o barco avistaram
finalmente um homem que vinha andando sozinho pela praia com o seu camelo. O
homem foi rapidamente cercado pelos dez portugueses mas não se rendeu. Lutou
corajosamente armado com sua lança e só depois de dura luta e ferido foi
aprisionado e levado para o navio.
Assim foi o primeiro
encontro entre europeus e africanos ao sul do Sara. Lança contra lança em luta
pela liberdade. Antes de regressarem ao barco, Gonçalves e seu bando,
aprisionaram também uma mulher que encontraram nas cercanias.
Mas a viagem dos
salteadores ainda não tinha terminado. Já no mar encontrou Antão Gonçalves um
outro português, Nuno Tristão, comandante de uma grande caravela armada.
Tristão tinha recebido ordens do Infante D. Henrique para aprisionar e levar
para Portugal pessoas que encontrasse na costa de África. Gonçalves e Tristão
aliaram-se em empreitada comum. À noite desembarcaram com uma grande força
armada e tiveram a sorte de localizar um acampamento de pescadores a dormir. Os
portugueses atacaram com toda a força. Uma parte das pessoas conseguiu fugir
mas os portugueses mataram quatro e aprisionaram dez entre homens, mulheres e
crianças.
Já em Portugal,
causou este primeiro saque em África um enorme alvoroço nas Cortes do Infante
D. Henrique. Pela façanha foi Antão Gonçalves promovido a Cavaleiro, recebendo
a medalha da Ordem de Cristo. O Infante D. Henrique despachou imediatamente um
embaixador especial ao Papa Eugénio IV com intuito de descrever a presa e
revelar os seus planos de novas conquistas e empreendimentos de caça a escravos
em África. O Infante D. Henrique
queria a bênção e aprovação do Papa para as expedições à África. Do Papa
recebeu o que solicitava, e não só isso.
O Papa declarou
também que a ” Cada um que participar
desta guerra deverá receber o perdão de todos os seus pecados”. Nada mal,
quando sabemos que os pecados nesta guerra então iniciada, eram assalto,
escravidão, estupro e uma orgia colossal de assassinatos de crianças, mulheres
e homens, numa extensão difícil de igualar. Os ”perdoados” antecipadamente, dos
quais muitos vinham dos piores estratos da sociedade, criminosos com crimes
inomináveis muitos deles condenados à morte, não necessitavam do apoio papal
para atacar populações indefesas, assaltar, escravizar e assassinar.
A bênção e o perdão
dos pecados, dados pelo Papa Eugénio IV, tiveram um resultado devastador para
todo o futuro de África. Também os Papas seguintes repetiram o exemplo de Eugénio
IV. Em todas as guerras de rapina ou empreendimento de saque no continente
africano os Papas declararam sempre o perdão dos pecados para os cristãos europeus.
As caravelas
portuguesas começaram então a velejar com destino a África na costa do Senegal
para raptar homens e mulheres para vender como escravos. Os portugueses iam bem
armados e chegavam em esquadras de vários navios. Normalmente desembarcavam à
noite, atacavam as aldeias de pescadores sem defesa e transformavam os seus
habitantes em escravos. Os negreiros tentaram também penetrar no continente mas
o risco de vida era muito grande. Os raptores permaneceram na costa atacando somente
as vilas do litoral. Mesmo assim o número de escravos africanos continuou a
aumentar alcançando um valor extraordinário. Em 1444 iniciou-se a primeira expedição
financiada e organizada, compondo-se de seis navios que partiram de Lagos na
costa do Algarve, no sul de Portugal. O objectivo era aprisionar africanos em
grande escala para posterior venda como escravos. Quando alguns meses mais
tarde os navios voltaram a Lagos, os porões estavam carregados com mais de 235
pessoas. Os negreiros tinham iniciado uma guerra em menor escala onde muitos
africanos foram mortos quando se defendiam dos ataques dos portugueses. Assim
se estabeleceu a caça aos escravos como empresa comercial transoceânica.
De 1441 a 1448 os
portugueses escravizaram mais de 1.000 pessoas nas costas de África. A partir
do início da década de 1450 o número de escravos vendidos nos portos de Lagos e
Lisboa aumentou para mais de 700 a 800 por ano. No entanto isto era só o começo
do que viria a acontecer. (o leitor que passar na cidade de Lagos pode ainda
hoje observar o lugar onde os escravos eram vendidos em hasta pública. O local
está bem conservado e situa-se na praça da República em frente da igreja de
Santa Maria.)
O mercado de escravos em Lagos
O aumento do
comércio de escravos originou um maior interesse da igreja cristã pelas
expedições dos salteadores portugueses em África. Acordos económicos entre
Portugal e o Vaticano não estão publicamente documentados pois como é do
conhecimento a investigação histórica nos arquivos do Vaticano não é permitida.
No entanto, documentos históricos importantes demonstraram que tais acordos
devem ter sido realizados. A partir do período do Papa Nicolau V, e por solicitação
dos Reis de Portugal, foram promulgadas várias bulas papais, importantes ordens
do Papa endereçadas a todos os cristãos, que atribuíram à Coroa portuguesa
direitos de exploração da África legitimando essas acções.
Três bulas papais
tiveram grande importância para o futuro das relações entre a Europa e a
África. A primeira, Dum Diversas,
foi promulgada em 18 de Junho de 1452, onze anos depois da expedição esclavagista
de Antão Gonçalves e Nuno Tristão. A bula papal Dum Diversas, autorizava o rei
de Portugal a
”atacar, conquistar
e submeter Sarracenos, pagãos e outros descrentes inimigos de Cristo; a
capturar os seus bens e territórios; a reduzi-los à escravatura perpétua e
transferir as suas terras e territórios para o Rei de Portugal e para os seus
sucessores”.
Mais claro do que
isto não é possível dizer-se. A bula papal é bem concreta. Uma pergunta fica
pendente. Qual foi o interesse do Vaticano e dos altos dignitários da Igreja
Cristã de dar tanto poder a um país como Portugal, na altura uma nação
culturalmente e economicamente atrasada? A explicação só pode ser uma – o ouro.
A proveitosa expedição de grande dimensão de que o Papa tinha a intenção de aproveitar
pode ser deduzida do texto que dá ênfase a ”bens
e territórios e escravatura perpétua”.
A mesma orientação
segue-se nas bulas papais posteriores. A bula papal, Romanus Pontifex, de 8 de Janeiro de 1455, foi uma glorificação da
história do imperialismo português. Com essa bula o rei de Portugal recebeu do
Papa o monopólio da navegação, comércio e direitos de pesca em África, e de todas
as conquistas futuras, ao sul do cabo Bojador e até à Índia. Este monopólio deu
um poder enorme aos Reis de Portugal tanto no que se refere à extensão da
região em questão como ao fato de que a bula era também uma proibição aos
outros países cristãos de enviarem as seus barcos a África. Aqui se coloca
novamente uma questão. Qual foi a parte que o Papa recebeu em troca?
Na terceira bula
papal, Inter Caetera, de 13 de marco
de 1456, o Papa Calisto III confirmou mais uma vez o monopólio que a Coroa
Portuguesa recebera através da bula Romanus
Pontifex. Além disso, esta nova bula
atribuiu à Ordem de Cristo, cujo chefe máximo era o Infante D. Henrique (o
Navegador), todos os direitos exclusivos do cuidar das almas e das transacções
económicas associadas à ”cura das almas” nas regiões conquistadas e outras que
se viriam a conquistar, ”do cabo do Bojador à Índia”. As bulas papais
revestiam-se de grande significado na Europa desse tempo. As bulas
materializavam no texto escrito, a grande autoridade moral do Papa, directamente
vinda da vontade de Deus, o que possuía um grande poder de influência na ética
e moral das pessoas. Quanto à parte económica, deve-se admitir que também esta
vez o Papa apostou no cavalo certo. Durante os primeiros cinquenta anos
triplicou-se o comércio europeu de escravos de África.
O Infante D.
Henrique morreu em 1460. Esta personalidade histórica tão conhecida através dos
livros de história é apresentada como um visionário, um descobridor de mundos.
Certamente o Infante D. Henrique foi um visionário, mas as suas visões tinham a
ver com poder económico. O jovem príncipe Henrique iniciou a sua carreira como
conquistador planeando e executando várias cruzadas contra Marrocos e as Ilhas
Canárias. Até mesmo Gibraltar o bom Henrique queria conquistar à Coroa
Espanhola. Se acreditamos nos livros de história, a grande causa da vontade de
Henrique era a de propagar a fé Cristã. Mas, note-se bem, Gibraltar e as Ilhas
Canárias eram possessões espanholas e como tal igualmente cristãs como
Portugal, nada a ”cristianizar”, somente pilhar, saquear.
Uma famigerada expedição
de que muitos evitam falar, contra Tanger em Marrocos em 1437, demonstra bem a
moral do Príncipe. Um exército português, sob o comando directo do Infante D.
Henrique desembarcou na costa do Marrocos, próximo a Tanger, com o objectivo de
conquistar a cidade. Depois de dura batalha contra os soldados de Marrocos o
exército português foi derrotado e cercado, sem possibilidades de fugir para os
barcos.
O fim de Henrique e
muitos outros da fina-flor da aristocracia portuguesa estava próximo. Os
marroquinos ofereceram a livre retirada para os barcos se os portugueses
prometessem devolver a Marrocos a cidade de Ceuta que haviam conquistado alguns
anos antes. Como segurança a este pacto os marroquinos queriam que o Príncipe
Henrique, o Comandante em Chefe dos portugueses, ficasse prisioneiro como
garantia. Era uma oferta que os portugueses eram forçados a aceitar. A
alternativa era a ameaça de extermínio.
Porém o Príncipe
Henrique não tinha planos para ficar preso. O Príncipe Henrique convenceu o seu
irmão mais novo, Fernando, que estava sob o seu comando, a tomar o seu lugar
como refém. Dizendo de que era o melhor para o reino de Portugal e com a
promessa de que o libertaria rapidamente, conseguiu persuadir o seu irmão a
tomar o seu lugar na prisão. De volta a Lisboa, o Príncipe Henrique rapidamente
esqueceu a promessa feita. O jovem Fernando terminou os seus dias na prisão de
Fez, de onde enviou muitos apelos ao irmão, nunca respondidos por Henrique. O Infante D. Henrique tinha outras ideias
e preocupações. Sonhava em mandar barcos circundando o norte de África para
entrar em contacto directo com o grande continente de que havia ouvido falar e
aí conquistar aos norte africanos o domínio das minas de ouro e o controle do
comércio de escravos para a Europa.
As visões do Infante
D. Henrique eram visões de ouro e escravos. Na realidade o cognome de Caçador
de escravos e ouro seria mais indicado para o Infante D. Henrique do que o de Navegador.
O interesse do Infante D. Henrique pela navegação foi um subproduto do seu
interesse pela captura de escravos e pelo controle das minas de ouro em África.
Durante a última
metade do século XV o comércio português de escravos Africanos tornou-se uma
empresa bem organizada na Europa e em África. Os primeiros anos de caça humana foram
uma empresa perigosa com muitos portugueses mortos em guerra ou doenças. (um
dos primeiros negreiros Nuno Tristão, foi morto em 1446, junto com outros 18 no
rio Gambia na sua quarta expedição de saque.) Um método mais simples era necessário
para o sucesso do comércio. Os portugueses entraram em contacto com reis e
outros potentados das regiões costeiras e gradualmente conseguiram arranjar parceiros
comerciais, que em troca de tecidos e cavalos vendiam ouro, peles de antílope e
até mesmo escravos.
”O comércio com
escravos é um negócio para reis, homens ricos e comerciantes notáveis”, assim se
descreviam os negócios por um dos envolvidos.
É talvez chocante o
facto de que potentados africanos venderam outros africanos a estranhos para
serem levados para outras partes do mundo. Mas assim era no mundo então
conhecido. Também os reis europeus vendiam escravos europeus a reis africanos. Todavia
é importante conhecer os sistemas sociais na África do século XV para compreender
o passado.
Quando os
portugueses, e depois todos os europeus, pela via marítima fizeram os primeiros
contactos com África, vivia o povo, tanto na Europa como em África, em sistemas
políticos que muito se assemelhavam, mas que continham grandes diferenças. O
Feudalismo na Europa não era o mesmo que as organizações sociais africanas que comummente
se define como ”Feudalismo Africano”.
Na Europa durante a escravidão os escravos
eram despojados de todos os direitos e direito a propriedade. Com a transição
ao Feudalismo a escravidão transformou-se gradativamente em Servidão e Vassalagem,
um sistema em si terrível para os trabalhadores e que teve a duração de vários
séculos, em muitos casos nos limites da escravidão. ( No ano de 1775, Katarina
II , endureceu as regras da servidão na Rússia e os grandes proprietários
rurais tiveram o direito de vender os seus próprios camponeses como escravos.)
Em África o
”Feudalismo” tinha outro conteúdo. A velha estrutura de igualdade tribal deu com
o tempo lugar a um sistema em que alguns estados que se desenvolveram
fortemente submeteram povos mais fracos. Isto significava um género de servidão
ou vassalagem para os povos vencidos a que os historiadores no geral chamam
”escravidão doméstica”.
As condições desses
escravos africanos podiam variar muito dependendo do tempo e do lugar, mas um
padrão geral pode ser descrito sem uma grandes deturpações da realidade.
O mais comum para os
escravos em África, era o direito a um pedaço de terra onde tinham uma casa
numa região de onde não se podiam ausentar. Os escravos eram obrigados a fornecer
ao seu senhor uma parte da colheita e serviços pessoais, podendo gradativamente
receber uma maior liberdade de movimentos. Alguns tornavam-se camponeses
livres, outros artesãos e a diferença entre estes escravos e os homens livres
do povo dominante tendia a diminuir em conformidade com o tempo. Um escravo
africano podia possuir propriedades, ser adoptado como membro de uma família
senhorial e até mesmo tornar-se o herdeiro do seu Senhor.
Existem exemplos de
escravos que exerceram com sucesso o comércio, ficaram ricos, até mesmo
proprietário de escravos, homens importantes na sociedade e até mesmo eleitos
como Rei. Isto dito para esclarecer a situação e posição dos escravos e as suas
possibilidades nas sociedades africanas.
Naturalmente não existiam
muitas alegria na vida de um escravo. Um escravo podia por exemplo, ser dado
como presente, em alguma ocasião especial ou ser vendido posteriormente para
satisfazer os interesses económicos do Senhor. O importante neste contexto é
entender que a posição social do escravo africano quando os europeus chegaram a
África no século XV, em muito era igual à vassalagem, das grandes massas de
homens e mulheres, que dominava a Europa.
A situação social dos escravos africanos de então não tinha nada em comum com a posterior
escravidão nascida da necessidade dos europeus de força de trabalho barata para
trabalhar nas colónias americanas, quando os seres humanos eram tratados como
gado, nos navios negreiros, nas minas e plantações.
Com base nestes factos
podemos fazer uma ideia de como um proprietário de escravos africano
raciocinava, quando ao mesmo tempo, ele vendia para os europeus, ouro, marfim,
peles de animais e também escravos. Para o proprietário de escravos em África não
era mais estranho vender escravos para comerciantes europeus do que vendê-los
para comerciantes africanos. Ele não sabia muito sobre as relações sociais dos
escravos na sua nova terra e supunha certamente de que eram semelhantes às de
África. Para ele, os escravos tinham o dever de estar na propriedade familiar
do patrão e ali viver a sua vida, exercer as suas aptidões e iniciar a subida
na escala social da sociedade, na tentativa de conseguir sua libertação.
Na realidade o
pensamento do vendedor de escravos africano não se estava muito longe do que se
passava. Naquela época, na segunda metade do século XV, os escravos eram
tratados na Europa à semelhança do tratamento em África. O escravo não era um
ser destituído de todos os direitos, pelo contrário tinha um lugar num sistema
de deveres recíprocos entre os escravos e a sociedade esclavagista.
Deve-se no entanto salientar
alguns factos decisivos e importantes para poder entender o desenvolvimento das
relações entre a Europa e a África. Os reis africanos ou os chefes tribais que
vendiam escravos para os europeus nunca poderiam antever que este primeiro e
relativamente limitado comércio de escravos iria, no futuro tomar proporções
tamanhas que arruinaria a estabilidade dos seus reinos. Eles não podiam prever
que esta futura instabilidade levaria a uma situação em que os europeus
totalmente dominassem a África. Uma situação em que os europeus sendo a parte activa
e mais forte no comércio de escravos por razões de superioridade de armamentos,
sempre deveriam obter os maiores lucros e as maiores vantagens. É também
importante lembrar que durante aqueles anos o comércio de escravos era apenas
em uma parte menor dos negócios entre a África e Europa, ainda que para
Portugal e depois para a Espanha o comércio de escravos representasse a maior
parte de todas as transacções comerciais.
Até à segunda metade
do século XV o comércio esclavagista destinava-se principalmente preencher as
necessidades da aristocracia, em Portugal e Espanha e duma limitada exportação
para Itália e França. Este mercado não era grande e manifestava uma tendência
ao enfraquecimento. A Inglaterra e a França, por exemplo, duas das grandes
potências no começo do século XVI, não comerciavam em geral com escravos, mas
tinham desenvolvido um comércio com África que se baseava em mercadorias como
marfim, ouro e papel.
O comércio de
escravos compreendia, até meados do século XVI, alguns milhares de escravos africanos
que foram vendidos a países europeus e poderia ter passado para a história como
um acontecimento reprovável mas limitado a uma determinada época. Um outro mais
valioso comércio, como foi dito, começava a desenvolver-se e a tornar-se mais
importante.
Algemas
Todavia não foi
assim a história. A viagem de Colombo às Antilhas, em 1492 e a travessia de
Cabral ao Brasil em 1500 modificou tudo. Depois destas datas os barcos
portugueses e espanhóis viajavam cada vez mais para o ocidente em direcção ao
novo continente americano recém-descoberto. Com grande quantidade de soldados
bem armados, guerras e traições, conquistaram sucessivamente as Índias
Ocidentais – as ilhas da América Central – e grandes extensões de terras na América
do Sul. Os povos dessas regiões foram escravizados e forçados a trabalhar em
minas e plantações de cana-de-açúcar. Na busca de riquezas, os conquistadores
foram brutais na exploração de índios que transformaram em escravos. A população
indígena desapareceu durante a escravidão. Em algumas regiões foi totalmente
exterminada. Em Cuba, onde Cristóvão Colombo aportou em 27 de Outubro de 1492,
desapareceram mais de 100 mil indígenas num período de menos de 50 anos. Não é
possível descrever aqui a tragédia dos indígenas americanos durante a
exploração colonial. Para isso seria necessário um texto que de uma forma
completa descrevesse esse drama. O autor é forçado apenas a constatar a cruel
realidade dos indígenas na América e seguir com a questão do comércio de
escravos europeu de África.
Algemas
para pés
A procura de força
de trabalho para substituir os indígenas massacrados nas novas colónias na
América aumentou de maneira extraordinária a partir do começo do século XVI. Os
conquistadores começaram a importar escravos de Espanha, Portugal e Norte de
África. Estes escravos eram tanto brancos como negros e em parte eram cristãos.
Pode ser de
interesse histórico saber que a exportação de escravos cristãos continuou até o
final do século XVII. Existem documentos da Coroa Espanhola em que os Reis
Católicos (assim chamados pelo Papa!) autorizavam a exportação de mulheres escravas
brancas de Espanha para o México, onde tomavam lugar nos prostíbulos da classe
dominante.
Em 1515 a Espanha
recebeu o primeiro barco com um carregamento de açúcar, de cana plantada por
escravos nas Índias Ocidentais. Estes escravos tinham sido aprisionados em
África, transportados para Espanha e de Espanha tinham sido vendidos para as
plantações nas Índias Ocidentais. Até essa altura os escravos aprisionados em
África tinham que ser trazidos à Europa, Espanha ou Portugal, e só depois
podiam ser vendidos para trabalhos na América. Mas a grande carência de força
de trabalho originada pelos massacres dos indígenas e as novas explorações de
minas e plantações exigiam uma outra e mais completa solução do que a importação
de escravos a partir da Europa.
No início da
exploração da América tanto os portugueses como espanhóis estavam indecisos em
utilizar escravos africanos. Estes tinham-se mostrado muito rebeldes e em
alguns casos tinham-se revoltado e causado morticínios nos navios negreiros e
nas Índias Ocidentais. Mas, o desenvolvimento conduziu os acontecimentos nessa
direcção. Os Reis de Espanha e Portugal estavam economicamente dependentes do
comércio de escravos onde tinham feito grandes investimentos. Ao mesmo tempo a
necessidade de força de trabalho – grandes quantidades de escravos para as
minas e plantações – so poderia ser satisfeita a partir do continente africano.
A solução encontrada pelas casas reais de Espanha e Portugal foi aumentar a
violência e a opressão contra os povos africanos. Os escravos eram agora, com
aumento da, buscados na África e fornecidos à América.
Em 1518 partiram
primeiros navios espanhóis com cargas de
escravos diretamente da África para as Índias Ocidentais. Este
acontecimento iniciou nova época, quando as Monarquias na Europa autorizavam os
comerciantes de escravos em comprar escravos em determinadas regiões da África
e posterior exportacão para as colônias no continente americano.
Milhões e mais
milhões de pessoas foram caçadas, aprisionados e vendidas como escravos. Tanto
as monarquias européias, as Igrejas Católica e Protestante e as demais classes
dominantes se tornaram violentamente ricas neste negócio abominável. O comércio
de escravos para a América iniciou-se em Portugal e Espanha. Mas, estes países
foram seguidos rapidamente pela Inglaterra, Franca, Holanda, Prússia,
Dinamarca, Suécia e mais tarde, também por dois novos países, no continente
americano, Brasil e Estados Unidos. As relações entre os países escravistas,
nas costas Áfricanas eram de quase estado de guerra, todos preparados em
apossar-se de toda a presa sem querer repartir com ninguém. Começou com a
guerra entre Portugal e Espanha. A monaquia portuguesa tinha sem dúvida,
recebido o monopólio do comércio na costa Áfricana do Papa! Correndo o risco de
ser excomungado pelo Papa, e cair no inferno, a Coroa Espanhola começou a
mandar os seus navios mais abaixo, nas costas Áfricanas. (Em 1475, já os Reis
Católicos de Espanha enviavam uma frota de trinta navios à Guiné)
O Rei de Portugal
João II não cerrou os olhos a esta afronta. De acordo com determinacões do
Monarca português, os comandantes de barcos portugueses, que na África se
encontrassem com ”navios de qualquer gente da Espanha ou doutro qualquer” não
fizessem prisioneiros mas logo os botassem borda fora, “para que a eles seja
pena por atentarem i quererem fazer uma cousa tão defesa e vedada, e, aos que o
ouvirem e souberem, bom exemplo”. Porém
um negócio tão lucrativo como este não poderia ser mantido só para um rei. Dentro
de alguns anos as costas ocidentais da África estavam cheias de navios
espanhóis e até mesmo barcos piratas de outros países.
Um pirata que passou
para história como o primeiro contrabandista do comércio de escravos foi o
inglês John Hawkins. Financiado por
comerciantes londrinos, Hawkins adquiriu três barcos, em 1562, com uma
guarnicão de 100 homens, navegou da Inglaterra para as Costas da Guiné. Através
de guerra e saques, Hawkins conseguiu, após algum tempo na costa, aprisionar
mais de 300 pessoas. Após o que, John Hawkins, navegou com destino as Índias
Ocidentais onde vendeu os prisioneiros como escravos e comprou mercadorias para
vender na Europa.
Sir John Hawkins
A coroa inglêsa
não queria, em princípio, saber nada das aventuras de Hawkins e também nada
do comércio de escravos. Mas, quando a Rainha Elisabeth I tomou conhecimento da
contabilidade de Hawkins depois da primeira viagem, houve uma mudança radical
transformando-se rapidamente
a Rainha a investir na
caçada de escravos de Hawkins. John Hawkins recebeu da Rainha Elisabeth um
navio negreiro batizado de ”Jesus” (!) destinado a sua segunda expedicão
escravista à África. A John Hawkins foi concedido, mais tarde o título de nobreza
por servicos prestados à Grã Bretanha e escolheu como símbolo, o escudo
d’armas, um negro escravo algemado e de joelhos!
Durante os séculos
XVI e XVII o comércio de escravos continuou a expandir-se a rítimo acelerado. O
monopólio exercido por Portugal foi destruido quando o país entre 1580 e 1640
ficou sem Rei e então o Rei de Espanha Filipe I, o herdeiro mais próximo do rei
de Portugal, assumiu o trono de Portugal. Até 1640, quando explodiu uma revolta
em Lisboa e um novo Rei português foi coroado, o país tornou-se numa provincia
espanhola e foi rebaixado como poder naval.
A partir do início do século XVII muitos
países apossaram-se de grande parte do comércio de escravos, que neste contexto
se constituia nos maiores negócios em todos os mares. O estado de beligerância
entre estes países era a relação mais comum em todos os oceanos. A cobica e a
inveja sobre os lucros do comércio escravista não conhecia fronteiras. O poder
naval da Inglaterra cresceu fortalecendo-se em todo o período. Este país de
segunda categoria no que diz respeito ao comercio de escravos começou a
produzir mercadorias para vender à Espanha e a Portugal o que lhe deu acesso ao
ouro e a prata proveniente do comércio escravista e das colônias na América.
Este facto criou as condicões para um processo de industrializacão na
Inglaterra que transformou a Inglaterra numa das potências mais fortes da
Europa.
O momento decisivo,
de quem deveria tomar a lideranca sobre o comércio com a África, naquele momento quase
exclusivamente de escravos, surgiu com a guerra de sucessão do trono espanhol,
entre 1702 e 1714, após a morte de Carlos II. O império Espanhol naquela época
era o maior do mundo, com posses na Holanda, Itália, América, África e Ásia. A
pérola deste império era o ”assiento”, o contrato que dava ao possuidor o
direito a todo comércio de escravos entre a Espanha e as possessões na América,
a origem de riquezas enormes.
Felipe de Anjou, o
Duque francês escolhido por Carlos II, tornou-se Rei Felipe V da Espanha com
apoio do avô, o Rei da França, Luís XIV. Após o seu coroamento Felipe V concedeu
o direito de “assiento” ao
seu avô Luís XIV, o que este havia exigido anteriormente. A monarquia de
Inglaterra sentiu-se roubada das grandes riquezas e então uma grande guerra se
tornou realidade. Durante 12 anos, na Europa e em todos os lugares onde as duas
partes se encontravam era uma matança mútua. O primeiro Tratado de Paz foi
realizado em abril de 1713, com a Paz de Utrecht, entre a Espanha Inglaterra e seus aliados.
A decisão de Paz
pôde ser assinada pelo fato de que a Espanha e Inglaterra, um mês antes haviam
acordado num tratado de Comércio, O Convênio do Assiento, que concedia à Coroa da Inglaterra o monopólio de exportacão de
escravos da África para a América Espanhola! Com base neste Convênio do
Assiento, a Inglaterra desenvolveu-se enormemente durante o século XVIII para
se transformar no maior poder imperialista do mundo, uma posicão que a
Inglaterra manteve durante no mínimo duzentos anos.
50
milhões desapareceram da África
Quantos milhões de
pessoas desapareceram da África por causa do comércio de escravos, entre os anos
de 1400 e 1900? Esta questão tem sido objeto de muitos estudos mas não pode ser
respondida de forma unívoca. Nunca existiu uma estatística exata, somente
estimativas baseadas em dados incompletos.
Mesmo os números existentes
estão errados por razões do extenso contrabando. O comércio de escravos era
taxado com impostos pesados pelas Monarquias européias e pela Igreja que viviam
deste negócio. Os comerciantes de escravos tentavam quase sempre evitar o pagamento
de deveres alfandegários subornando os funcionários alfandegarios dos mercados
de escravos. Estes permitiam aos comerciantes de escravos utilisarem-se das
marcas das diferentes Companhias Escravistas com as quais marcavam os escravos
que passavam assim sem pagar impostos ou taxas de alfândega. O contrabando de
prisioneiros vendidos como escravos é estimado ser uma terça parte de todas as
carga.
Mas, quantos eram
eles, na sua grande totalidade? Nos círculos de pessoas que dedicaram a vida a
estudar a história do continente Áfricano, avalia-se a sifra de 15 milhões como
um mínimo absoluto e 50 milhões como a mais plausível quantidade de escravos
vivos que chegaram à América. (sòmente em Cuba desembarcaram durante um período
de 50 anos, entre 1791 e 1840, um milhão de escravos!)
Prisão de
pescoço
Mas, esta estimativa
de número de escravos que chegaram vivos a América é evidente não a mesma
quantidade que foram embarcados nos navios negreiros. Muitos morriam durante a
viagem, calculados um mínimo de 20 por cento. Muitas vezes estas siffras eram
muito maiores.
A estes trágicos
números devemos acrescentar todos aqueles que foram assassinados durante as
expedicões de saques e nas guerras promovidas pela caça ao escravo que passados
vários séculos abarca grandes regiões no continente Áfricano. Chega-se à
conclusão que o comércio de escravos, calculado por baixo, deve ter custado a
África no mínimo 50 milhões de vidas humanas (alguns investigadores calculam em
100 milhões), o que corresponde à quarta parte da população negra da África em
meados do século vinte (1950), quando estes estudos foram realizados.
O comércio
escravista liquidou as estruturas sociais na África.
Em meios dos anos do
século XVII (de1600) as colónias européias no récem descoberto continente
americano conheceram um renovado e poderoso desenvolvimento. Enormes
quantidades de escravos africanos foram para ali transportados afim de tomar
parte na produção das minas de ouro e prata, nas plantações de cana-de-acucar, tabaco,
algodão e muitas outras.
Não menos
necessitava-se constantemente de novos escravos uma vez que a capacidade dos
escravos era utilisada sem escrúpulos tendo como cosequência muitas mortes. A
mortalidade na colónia Holandesa de Surinã, nas Índias Ocidentais, era por
exemplo, tão alta que toda a populacão sadia de escravos, cerca de 50 mil
pessoas, era exterminada totalmente cada 20 anos!
Quando a procura de
escravos aumentava na América, intensificava-se também a caçada humana dos
mercadores de escravos no continente africano.
Os comerciantes de escravos conseguiam escravos de três diferentes
maneiras: ataque pirata, alianças de guerra e parcerias pacíficas. O ataque
pirata eram expedições de pilhagem e guerra onde os negreiros tinham as suas
bases nos navios. O ataque pirata transformou-se rapidamente em parceria de guerra.
Os europeus desembarcavam em terra com grupos armados de soldados para apoiar
um rei africano contra os seus rivais. Em regra os comerciantes europeus de
escravos recebiam como espolio de guerra o direito de compra sobre os
prisioneiros dos povos vencidos, que eram transportados para a América como
escravos.
Este género de
parceria dos primeiros mercadores de escravos foi feita pela primeira vez pelo
inglês John Hawkins. Na sua quarta viagem, quando ele estava na costa da Guiné
e tinha capturado mais de 150 prisioneiros, ocorreu algo determinante para o
futuro do comércio de seres humanos. Nas Costas de Serra Leoa Hawkins foi contatado
por um chefe tribal que desejava o apoio de Hawkins na guerra contra outros
reis na região. Como forma de pagamento Hawkins deveria receber todos os
prisioneiros que fossem capiturados na guerra. Sob o comando de 300 ingleses,
Hawkins desembarcou e junto com o chefe e seus homens iniciou a batalha contra
os inimigos do cacique. A destruição e mortandade causada pelos homens de
Hawkins que se utilisavam de armas de fogo foi terrível. Mas os ganhos foram
muito ao gosto de Hawkins. Ele levou consigo mais de 300 prisioneiros, que
resultou em grandes lucros no momento da venda no Caribe.
Com o passar do
tempo os europeus aprenderam a provocar rivalidades entre os povos africanos e a
utilisarem-se delas para levar a um estado de guerra para conseguir mais
escravos. Nestes casos, os europeus apoiavam por exemplo uma das partes
fornecendo armas em troca do direito de comprar os escravos entre os
prisioneiros. Dessa forma, e atraídos pelas mercadorias dos europeus que os
comerciantes de escravos pagavam, alguns reis africanos tornaram-se
gradualmente parceiros dos mercadores de escravos da Europa.
Mas a parceria transformava-se
na maioria dos casos na dependência dos reis africanos para com os mercadores
de escravos. Se alguém desejava alguma mercadoria européia que os comerciantes
de escravos tinham a oferecer, existia sómente uma forma de consegui-la -
fornecer mais escravos. A perseguicão para obter escravos expandiu-se para
maiores regiões e mais profundamente no interior do continente.
Os comerciantes de
escravos pagavam inicialmente na maioria das trocas, com cavalos, utensílios de
cobre e tecidos, mas gradualmente estes foram substituidos quase na totalidade
por armas de fogo e alcool. Armas de fogo, o mosquete, transformou-se numa
necessidade absoluta para os povos de Africa que queriam garantir a sua
liberdade. Sem armas de fogo, que apenas poderia ser conseguida em troca de escravos,
os reinos fortes transformavam-se numa presa fácil para reinos mais fracos, mas
armados, na busca de escravos.
Finalmente, em
muitas regiões do continente africano, todos os povos foram obrigados a
adquirir armas de fogo. Em consequência todos estavam obrigados à busca de
escravos. Durante muitos séculos, do começo do século XV (1400) ao final do século XIX (final de 1800),
espalhou-se em grandes regiões da África a instabilidade e a inseguranca. Quase
em todas as partes existia o risco iminente de alguém ser raptado e vendido
como escravo para os mercadores europeus. A estrutura das sociedades entraram
em decadência e destruiram-se, as pessoas foram degradados e brutalizados pelos
negócios sem escrúpulos.
Este fenômeno pode
ser observado no desenvolvimento da arte, de formas muito sofisticadas no
século XV, para exposições mais duras a partir do final do século XIX. O desenvolvimento
Social foi paralizado em muitas regiões da África e velhas nações e culturas desapareceram.
Os poderes tradicionais dos reis, tradicionalmente dependentes de um sistema de
conselheiros e hierarquias, modificou-se para se tornar despótico e sem
fronteiras. Um resultado desta nova siutação foi que a oposicão política e a rebeldia
pudia desaparecer pela venda para os mercadores de escravos. A insegurança
aumentou gradativamente e as pessoas foram obrigadas a refugiar-se em regiões
inacessíveis. A produção da sociedade diminuiu ao mínimo, a agricultura foi
destruida em grandes regiões, sim, pois qual o camponês que queria plantar e
trabalhar uma terra que não sabia se iria colher?
O comércio de
escravos foi uma dura e impiedosa perseguicão até o profundo interior da África.
Os homens e mulheres raptados e aprisionados eram obrigados pelos seus captores
a longas marchas em direção à costa, para os mercados de escravos ou navios
negreiros. Isto significava várias semanas ou meses a pé com carência de comida
e agua. Os prisioneiros eram originarios principalmente da parte ocidental da
África, do Senegal, ao norte, a Angola ao Sul. Durante o Século XIX (de 1800)
vieram também muitos escravos da África oriental.
Na chegada ao
mercado de escravos os prisioneiros eram encarcerados em barracões ou prisões.
Alí ficavam até que os caciques e os europeus entrassem em acordo sobre o preço
de uma “pièce de Inde”, o preço por um homem normal, sadio de 20 anos. Dois
homens de trinta anos correspondiam em geral ao preco de uma pièce, da mesma
forma que dois rapazes de 10 ou 15 anos ou duas mulheres.
Após muitos dias de
caminhada a pé, algemados, os prisioneiros chegavam geralmente extenuados.
Acrescente-se o fato de que muitos também tinham lutado pelas suas vidas,
talvez presenciando a morte de entes queridos e vendo as suas casas serem
queimadas pelos caçadores de escravos. A mortalidade nas prisões dos mercados
de escravos era por essas razões muito alta.
No dia em que os
prisioneiros iam ser vendidos para os europeus, eram retirados para fora das
prisões e levados a um pátio aberto, completamente nus, homens mulheres e
criancas. Alí eram examinados minuciosamente por um médico de bordo dos navios.
Os que estavam acima da idade de 35 anos, cabelos brancos ou de alguma forma
demonstrassem sintomas de doença, era colocados de lado. Só os melhores eram eram
aceitados para serem comprados.
Marcação com ferro em brasa
Todos os
prisioneiros comprados eram marcados no peito ou nos braços com um ferro em
brasa, imprimindo as diferentes marcas das companhias de escravos. A Companhia
Afro-Britânica tinha a marca DY, Duke of York, a defenicão formal da monarquia
Britânica. A monarquia de Portugal usava uma cruz de Cristo. A grande Sociedade
Bíblica, The Society for Propagation of Gospel, marcava ”seus escravos” com as
iniciais SPG. A firma inglesa Companhia da Guiné utilizava as iniciais GHC.
A cruz de Cristo da monarquia de Portugal
(aqui numa foto da Torre de Belém, Lisboa
a mesma cruz nas velas dos barcos portugueses)
O ferro de marcação de escravos da Companhia da Guiné
Após serem marcados
os prisioneiros eram levados de volta à prisão, onde esperavam até serem
levados para os navios negreiros que esperavam no porto. A viagem podia ser
para uma fortaleza ou depósitos de escravos, construídas pelos países europeus
ao longo da costa da África ou diretamente para a América. As primeiras grandes
Fortalezas nas costas ocidentais da África chamavam-se São Jorge da Mina, mais
tarde batizada de Elmina. Foi construida pelos portugueses entre os anos de
1481 a 1489, a uma distancia de 50 quilometros ao sul do Cape Coast no atual
país Gana. O Rei de Portugal, D. João II que decidiu construir o forte enviou
navios com 500 soldados, 100 trabalhadores de construção e tudo que era
necessário em material de construção. O forte foi provido com torres altas,
fosso cavadas na rocha e armado com 400 canhões. O forte Elmina foi construido para manter no
cativeiro mil escravos! O tamanho e as propriedades da fortaleza demonstram
claramente os grandes negócios com escravos que se planificavam. O rei D. João
II recebeu do Papa Xisto IV o perdão de todos os pecados, para todos os
cristãos que morressem em S. Jorge da Mina.
A viagem para a
América era para as pessoas prisioneiras, uma viagem para o desconhecido.
Nenhum dos escravos sabia o que aconteceria e muitos nunca antes tinham visto o
mar. A bordo dos navio de escravos a vida era um inferno indescritível. Os
escravos eram aprisionados com algemas de ferro, nas mãos e nos pés e obrigados
para baixo para um logar nos porões do navio. Alí eram postos muito juntos, em
um espaço pouco maior do que o proprio corpo ocupava. Os Porões eram separados
em vários pisos, com uma altura, no geral, de mais ou menos 80 centímetros,
nunca mais de um metro. Aqui os escravos eram obrigados a estarem deitados ou asentados.
No navio negreiro inglês Brooks, a altura dos pisos onde os escravos eram
encerrados era de 78 centímetros. O espaco para cada escravo masculino, no
navio Brooks, era de 183 cm de comprimento por 40 cm de largura. Para as
mulheres 175 x 40 cm, para rapazes 152 x 35 cm e meninas 137 x 30 cm. Em muitos
navios negreiros os escravos era também presos com algemas em volta ao pescoço.
Transporte de escravos de África para América
A mortalidade nos
navios negreiros era aterradorament alta, 20 a 30 porcento dos prisioneiros morriam
durante a travessia. Ás vezes os escravos faziam motim contra este terrível
destino e algumas vezes conseguiram tomar os navios. Na maioria dos casos os
comerciantes de escravos derrotavam os escravos revoltados que eram punidos em
banhos de sangue sádicos.
Quando alguém pára e
reflete através da incrível quantidade de seres humanos que foram vendidos como
escravos, principalmente durante 1650 a 1850, pode-se compreender que isto era
uma parte de um processo muito grande. Milhões de pessoas foram compradas em
África como escravos em troca de mercadorias européias, com armas de fogo,
tecidos, barras de ferro, utensílios de cobre ou aguardente. Essas pessoas
foram transportadas posteriormente para a América, onde trabalhavam
gratuitamente para os proprietários de minas ou plantações e criaram no
continente americano poderosa riqueza em mercadorias como açucar, tabaco, algodão,
rum, ouro, prata e pedras preciosas. Essas mercadorias eram transportadas por
sua vez para a Europa e vendidas de forma muito lucrativa. Uma parte do lucro
dessas transacões era reinvestido nas fábricas na Europa e novas mercadorias
européias eram transportadas para a África para a compra de mais escravos. A
este comércio, usa chamar-se de o Triângulo do Comércio ou o Círculo do
Comércio.
Triângulo do Comércio
O papel especial dos
escravos neste ciclo de criacão de riqueza não deve ser esquecido. Os escravos
não eram negros ignorantes e preguiçosos que só serviam para serem utilisados
como simples ferramentas, como dizem historiadores racistas. Os escravos eram
na verdade gente trabalhadora que tinah sido raptada, camponeses e artesãos com
um espectro muito amplo de conhecimento profissional. Os seus conhecimentos em
diferentes profissões foram na realidade muito decisivo para o progresso nas
minas e plantacões. Eles trabalhavam como carpinteiros, pedreiros, agricultores,
calcetadores, ferreiros, pintores, marceneiros, ourives e artistas e muito
mais. A destreza e o conhecimento básico profissional tinham eles trazidos das
suas terras de origem.
Detrás do Triângulo
do Comércio estavam as monarquias européias, a Igreja e em parte outros
financiadores. Os reis vendiam autorizações para a prática do comércio de
escravos ou financiavam esse comércio com dinheiro próprio. Por outro lado
membros das classes superiores, nobreza ou a classe burguesa, formavam companhias
com a bencão da Casa Real, compravam a licença real e entravam no negócio do
comércio de escravos. Muitos deles eram proprietários de navios ou estaleiros de
barcos, fabricantes de armas ou tecidos na Europa e proprietários de minas e
plantações na América.
O industrialismo nasceu do Triângulo do
Comércio.
O Triângulo do
Comércio era um negócio muito lucrativo, um comércio com lucros triplicados. A
receita da Grã Bretanha proveniente do Comércio das Índias Ocidentais, ao
término do século de 1700, foi quatro vezes maior do que a renda do comércio
desse país com todo o resto do mundo. Os lucros eram inconcebívelmente grandes
e o comércio expandia-se rápidamente. A quantidade de navios que traficavam os
mares do mundo aumentou enormemente durante um tempo relativamente curto. No
porto de Liverpool, no ano de 1719 existiam registrados 18.371 toneladas de
navios. No ano de 1792 a quantidade de tonelagem registrada era de 260.382.
O crescimento era
necessário porque o transporte de mercadorias aumentou consideravelmente
durante estes setenta anos. Como um exemplo pode-se utilisar os números de
importação do açucar para a Inglaterra e a exportação da Grã Bretanha de
produtos de algodão. A Inglaterra importou meio milhão de tonelada de acucar no
ano de 1720. Ao final do século de 1700 a importacão anual era cinco vezes
maior. Em 1701 a Grã Bretanha exportou produtos de algodão no valor de 23.000
libras. No ano de 1800 a exportacão foi de 5,5 milhões de libras!
A cidade de
Liverpool cresceu com a construcão de navios, Manchester e Lancashire cresceam
com a fabricação de tecidos baratos de algodão para a compra de escravos, e
Birmingham cresceu com as forjas de armas e a exportacão de milhões de
musquetes para a África.
A rápida expansão
económica do Triângulo do Comércio criou as condicões para a revolucão
industrial em Inglaterra. A necessidade de maiores quantidades de mercadorias
de consumo baratas conduziu a novos inventos na indústria que por sua vez levou
a um crescimento e renovação da produção. Especialmente nota-se isto na
indústria textil nos finais do século de 1700, onde se sucediam uma após outra,
as invenções e novas máquinas.
Desta maneira surgiu
uma nova classe de grandes comerciantes e magnatas da indústria subindo ao topo
da sociedade. Essa classe era enormemente rica, esbanjava dinheiro com muito
gosto e comprava para si poder político, por exemplo cadeiras no Parlamento
Inglês, de onde podia exercer influência nos négócios do país e nas condições
para o Triângulo do Comércio.
Mas toda essa riqueza
que foi criada no Triângulo do Comércio tem uma outra face, uma face muito
suja. Na África, o comércio de
escravos causou a miséria e destruição de reinos e culturas e a estagnação de
grande parte da produção tradicional e artesanato que aos poucos foi diminuindo
e quase desapareceu totalmente. Um exemplo. A fabricacão africana de tecidos,
famosa por sua boa qualidade e que os países da Europa realmente importavam antes
de o comércio de escravos, sucumbiu e desapareceu quando o tecido barato vindo
da Europa invadiu os países africanos.
Com o aumento do
poder opressor dos paises europeus a situação tornou-se muito pior. Os europeus
obrigaram ao fim da produção e desenvolvimento das sociedades na África para
conservarem o seu poder e seus mercados. A transferência de novas técnicas
européias para países na África era totalmente excluida, apesar de que isto foi
prometido pelos monarcas e homens de negócios europeus e apesar dos pedidos de
ajuda dos reis Áfricanos no que diz respeito a médicos, carpinteiros, professores,
padres, construtores de barcos e tudo que eles achavam necessário para abrir
novos caminhos para o futuro da África.
Também na Europa o
Triângulo de Comércio gerou filhos, o industrialismo, uma miséria nunca antes observada. Para as grandes massas de
operários industriais a vida era uma verdadeira miséria. Tanto para adultos
como para criancas a jornada de trabalho era quase infinita, acima de 16 horas,
o pagamento era terrivelmente baixo e as condicões de trabalho inconcebíveis. A
pobreza nas cidades industriais da Europa era pior que nunca. As riquezas do
Triângulo de Comércio eram acessíveis somente aos ricos. Para os pobres na
Europa as transformacões da sociedade causadas pelo Triângulo do Comércio foi como
uma nova escravidão.
No livro ”A
situacão da classe trabalhadora na Inglaterra” de Friedrich Engels podemos
ver um quadro da situacão dos trabalhadores no ano de 1845, uma leitura em
verdade inimaginável.
(Nota do Autor - A Suécia é o único país da
Europa em que a versão oficial da história tem negado a participação da classe
dominante no comércio de escravos. Mas na realidade a coroa sueca também entrou
na caça ao homem, embora de uma maneira imcomparávelmente mais pequena do que
os outros países da Europa. Como este texto foi originalmente escrito para um
jornal sueco e para o público sueco, foi o autor obrigado a investigar os fatos
corretos e fazer a sua narração num capitulo especial. Esse capitulo é aqui
incluído pelo seu interesse histórico e não por a Suécia ter tido um papel
preponderante no comércio de escravos.)
As riquezas da
África, também atraiu a classe dominante sueca. Em meados do Século de 1600
comecou uma luta por colónias, nas Costas dos Escravos ou Costa do Ouro, nos
mares do país que se chama atualmente Ghana,
para encher com ouro, do comércio de escravos, os cofres da classe
dominante sueca. Tudo iniciou, no ano 1647, quando Louis de Geer tomou conhecimento
das possibilidades económicas que o tráfico da África poderia dar. De Geer,
comprou da Rainha sueca Kristina uma carta de navegacão real que dava direito a
transitar para a África e viajar com dois navios na caça a escravos, ouro e marfim.
Como meio de pagamento de Geer utilisava-se de mercadorias, utensílios de
latão, anzois de pescar e aguardente.
Estes primeiros
lastros dos barcos deram grandes dividendos, o que levou ao próximo passo. No
ano de 1649 fundou-se a Companhia Sueco-Africana com Louis de Geer como o
principal proprietário. O objetivo, desta vez, não era o negócio de troca
simples. A Companhia foi formada para tornar realidade o sonho de uma colónia
sueca.
Como líder da
primeira expedicão da Companhia foi nomeado um aventureuro alemão, Hendrik
Carlof, com experiência da Costa da Guiné, onde havia prestado serviços sob o
comando holandês. No ano de 1650, Carlof chegou ás costas marítimas de Ghana,
onde, como chefe da expedição sueca acordou um tratado com o rei de Fetu, um
reinado junto a Costa. Chegaram-se a um acordo da construção de duas
fortificações e algumas estações de comércio. O forte, de nome Carlsborg,
começou a ser construído juntamente com uma parte das estações de comércio ao
longo da costa e o outro forte, Christiansborg, em Accra, na atual Ghana. A
vida para a guarnição sueca não foi pacífica, pelo contrário cheia de combates
contra holandeses e ingleses que queriam a mesma presa. Isto foi uma
desvantagem para o comércio e para os lucros da Companhia.
Após a morte de De Geer a Companhia Sueco-Africana foi reorganizada no ano
de 1654 sob a direcão dos filhos de De Geer. Foi uma mudança nos destinos da
Companhia. Carlof, não se entendia com a direcão da Companhia, com os filhos de De Geer, que
tentaram engana-lo em questões de dinheiro. Ele desertou e refugiou-se na
Dinamarca. Aí conseguiu arranjar uma autorização de corsário com objetivo de conquistar a
possecão sueca na Costa da Guiné para a Dinamarca.
Em 1658 Carlof aportou novamente à Costa da Guiné. Com ajuda de um chefe
tribal africano conseguiu vencer o comandante da guarnicão de Carlsborg, o sueco
Von Krusenstierna, e tomar o forte, as estações de comércio e Christiansborg.
Em consequência a Companhia Sueco-Africana perdeu todas as posseções e a história
do poder colonial sueco deveria ter chegado ao fim.
Uma última tentativa
existiu todavia. O cacique africano que ajudou Carlof contra os suecos,
invandiu Carlsborg, que os dinamarqueses neste altura já tinham vendido aos
Holandeses, oferecendo a venda do forte à Companhia Sueco-Áfricana. A companhia
comprou mais uma vez Carlsborg muito caro em troca de moeda de ouro e os
negócios recomecaram a rolar como antes. Mas o sucesso da presenca colonial da
Companhia não durou muito tempo. Os holandeses atacaram Carlsborg pouco depois
e o forte caiu depois de 13 meses de cerco. A aventura colonial sueca na África
Ocidental chegou a um fim definitivo.
Mas o Comércio de escravos? A Suécia esteve
envolvida?
Aquí a narativa
histórica divide-se. Alguns historiadores suecos gostam de afirmar que os
suecos jamais negociaram com escravos. Isto, no entanto, não é verdade. Fazendo
um exame detalhado dos livros da Companhia Sueco-Africana pode-se constatar que
a companhia possuia escravos como força de trabalho nas fortificações e nas
estações de Comércio. Estes escravos foram comprados pela companhia. Além disso
foram mandados para a Suécia em navios suecos, escravos africanos destinados ao
trabalho nos feudos da nobreza sueca. Com respeito ao comércio de seres humanos
para a América é um facto que o tráfico se fazia em navios suecos e
dinamarqueses da costa ocidental da
África para as Índias Ocidentais por
iniciativa de empresas suecas e dinamarquesas.
Porém a verdadeira erupcão do comércio
organizado de escravos ocorreu sómente a partir do século XVIII (de 1700). No
ano de 1775 a Dinamarca comprou três ilhas nas Índias Ocidentais, chamadas de
ilhas virgens Saint Croix, Saint Thomas e Saint Jan. Nas grandes plantacões destas
ilhas a Dinamarca utisou escravos vindos das suas colónias na África.
A Suécia não queria
ser pior do que os seus vizinhos e providenciou em conseguir para si uma colónia
nas Índias Ocidentais. Em julho de 1784 o Rei Gustav III comprou a ilha de
Saint Bartélemy da Franca, em troca de privilégios comerciais na cidade de
Gotemburgo. Em março de 1875 a ilha de Saint Barthélemy foi posta sob a direcão
do comandante sueco Salomon von Rajalin. Ao mesmo tempo organizava-se na Suécia
a Companhia das Índias Ocidentais, que recebeu grandes direitos comerciais e
poder em Saint Barthélemy.
O Rei Gustavo III
declarou a ilha Porto Franco, porto livre, aberto para todos os navios do
mundo. Esta medida veio a revelar-se de grande proveito. Ao final do século XVIII
(final de 1700), surgiu um período de muita pertubação, nas Índias Ocidentais
com guerras constantes entre a Inglaterra, França, Holanda e América do Norte.
A guerra não diminuiu no entanto a necessidade de contactos comerciais entre os
capitalistas dos países beligerantes. Ao contrário, a necessidade do comércio
tornou-se maior. A politica de neutralidade sueca juntamente com a declaracão
de Gustavo III de porto livre, fez de Saint Barthélemy, principamente a capital
Gustavia, um ponto de convergência para comerciantes e transações comerciais
nas Índia Ocidentais.
Gustav III deu
inicio ao comércio de escravos na Suécia
Um outro factor que
foi decisivo para o sucesso econômico foram as modificacões feitas na
legislacão que legalisaram o comércio de escravos. Por proposta do Comandante
Rajalin, o Conselho de Governo e o rei Gustav III determinaram no ano de 1785
que o comércio de escravos seria permitido em Saint Barthélemy afim de que os
habitantes da ilha pudessem participar do Comércio de escravos. ”Uma situação necessária
para o cultivo da ilha e a ampliacão das plantações”, foi dito na ocasião.
Gustavo III foi para
a história como um Rei que introduziu o comércio de escravos num país que 500
anos antes havia abolido a escravidão. Como privilégio da Companhia das Índias
Ocidentais a partir de outubro de 1786, a Companhia obteve o direito de fazer
negócios de comércio de escravos, na costa da África. O fato é que o comércio
de escravos foi sancionado oficialmente sem que nenhum membro do Conselho de
Governo se opusesse.
É interessante notar
que a unanimidade absoluta entre os representantes da classe dominante tinha
muito pouco apoio entre o povo. Neste período a opinião contra o comércio de
escravos começou a crescer fortemente em todo o mundo e os ventos de mudança
espalharam-se até à Suécia e ganharam a maioria do povo sueco.
Em Saint Barthélemy
a situacão era tal que a nova legislacão implicou que o comércio de escravos foi
um dos grandes comércios da ilha sueca. O comércio com seres humanos em navios
suecos, partia da África Ocidental, Guiné e Angola para Saint Barthélemy e as
Ilhas Virgens, possecões da Dinamarca. Os africanos que não podiam ser vendidos
para os proprietários das plantações dessa ilhas, eram aprisionados em Saint Barthélemy
para serem oferecidos para venda em outras plantações nas Índias Ocidentais.
Para este fim existia um depósito de escravos na rua Östra Strandgatan em
Gustávia, que era propriedade do mais bem sucedido empresário de Saint
Barthélemy, Adolf Hansen, representante da
Companhia das Índias Ocidentais na ilha. Hansen era também proprietario
de navios de escravos.
Tem-se debatido se a
Companhia da Índias Ocidentais oficialmente participava do comércio de
escravos. As formalidades jurídicas são por vezes difíceis de compreender. Mas
para além do facto de que o representante da Companhia era um dos mais activos
no comércio de escravos na ilha, existem outras provas. Um dos maiores
acionistas da companhia (o maior era o príncipe herdeiro Gustav Adolf, depois
rei Gustav IV Adolf), o diretor executivo Lars Rejmers P:son, dedicava-se ao
comércio de escravos para Saint Barthélemy e posteriormente para outras ilhas
nas Índias Ocidentais inclusive Havana. Rejmers participou em parceria com
vários empresários da ilha utilisando-se da Administracão da Companhia para as
transações economicas relacionadas com o comércio de escravos.
Tais eram negócios,
de muitos êxitos neste local para todos os contrabandistas e países em guerra.
Durante o período em que a guerra grassava na região, Gustávia teve um
progresso indescritível. De ter sido quase inabitada em 1785, Gustávia com seus
5.000 habitantes transformou-se no ano de 1800, numa das maiores cidades da Suécia, depois de Estocolmo,
Gotemburgo, Karlskrona e Norrköping (comparado-se a Gävle com 5.400 habitantes
ou Uppsala com 5.105). O maior negociante na ilha era como foi dito a Companhia
Sueca das Índias Ocidentais fundada em 1786. No ano de 1806 os negócios da
Companhia passaram a ser propriedade do estado sueco para seis anos mais tarde,
em 1912, passarem à propriedade da Casa Real Sueca.
Karl XIV Johan fez fortuna com os lucros do comércio de escravos
As receitas
comerciais de Saint Bartélemy foram transferidas após o ano de 1812 para a
Fundacão Barthélemy, da propriedade pessoal dos reis suecos, a partir de 1818
do rei Karl XIV Johan fundador da actual dinastia, os Bernadottes. Os
rendimentos proviam também das taxas alfandegárias e impostos portuários, que na
maior parte eram dos barcos negreiros e dos impostos do comércio de escravos.
Até mesmo os dinheiros proveniente da venda de escravos fugidos de outras ilhas
ou negros e mulatos sem documentos de identidade, os quais eram aprisionados
por órdem do governador e vendidos no mercado de escravos, eram pagos à
Fundacão Barthélemy.
Dois anuncios no jornal Report of Saint Bartholomew de dois homens
africanos negros, Richard Crump e Joseph Raphae,
postos à venda pelo governador da ilha, à ordem do rei sueco.
Mas não há sorte que dure eternamente.
Com o andar dos
anos, as guerras existentes na região foram acabando e Saint Barthélemy e a
cidade e o porto de Gustavia deixaram de ter
interesse para a realização de negócios pouco claros. Além disso o
comércio de escravos estava a acabar, tendo a França proibído o comércio em 1794
e a Inglaterra em 1807, sendo os barcos dos negreiros confiscados pela marinha
inglêsa a partir desta data.
A casa
real dinamarquesa foi também obrigada a proibir o comércio de escravos. Esta
medida teve efeitos contraditórios e foi a última tábua de salvação dos
negreiros suecos e dinamarqueses. Em março de 1792 saíu o decreto do governo
dinamarquês a proibir o comércio de escravos a partir do 1 de Janeiro de 1803,
o que deu origem a uma revolta dos donos de plantagens nas ilhas dinamarquêsas.
Para evitar este problema, a coroa dinamarquêsa decidiu dar empréstimos a juros
muito baixos, o chamado empréstimo para negros, para os donos das
plantagens poderem comprar grande número de escravos antes da lei contra a
escravatura entar em vigor. O resultado foi uma grande compra de escravos num
curto periodo de tempo, negócio que foi feito por negreiros suecos e
dinamarquêses. Mas apesar disto o comércio em Saint Barthélemy começou a cair
até desaparecer quase completamente.
O último golpe veio
em 1831 quando a Inglaterra abriu os seus portos nas Índias Ocidentais aos
barcos americanos. A redução de lucros que veio daí, originou pela parte da
coroa sueca a decisão de vender a ilha de Saint Barthélemy, que veio mais tarde
a voltar para a posse da França.
Antes da venda ser
efetuada foi feito um plebiscito entre os habitantes sobre a preferência de a
ilha ser sueca och francêsa. Este plebiscito foi certamente para a história
como um resultado único. Todos os habitantes menos um votaram pela França!
Assim ficou demonstrado que a propaganda de que os habitantes tinham um amor
pela Suécia e a casa real sueca era uma mentira total.
O plebiscito foi o
fim da história das possessões coloniais suecas nas índias ocidentais. Em 16 de
Março de 1878 a ilha de Saint Barthélemy voltou a ser francesa, 94 anos depois
de a Suécia a ter comprado.
O racismo e o comércio de
escravos
Os
efeitos do comércio de escravos e do comércio do triangulo nos países europeus
e africanos e mais tarde nos países no continente americano pôem questões importantes
sobre a natureza dos contactos entre as pessoas aí existentes. De que maneira
se viam as pessoas de diferentes continentes umas às outras? Como era o
contacto entre negros e brancos e mais tarde entre estes e os índios no
continente americano? Sem nos aprofundarmos no tema, o que requeriria uma
explicação extença fora das possibilidades deste texto, podemos no entanto
fazer algumas apreciações históricas.
Os
primeiros contactos entre os europeus e os africanos, feitos pelos portugueses,
foram principalmente a caça ao homem, a caça aos escravos impulsionada pela
sede da riqueza.
Os
portugueses começaram por roubar e saquear, mas quando os reis portugueses
encontraram os seus irmãos de classe em África começaram a comerciar com esses
reis africanos num intercâmbio entre partes iguais. As classes dominantes
branca e negra viam-se uma à outra mais ou menos da mesma maneira, uma mistura
de curiosidade e medo e ao mesmo tempo uma oportunidade de fazer bons negócios
e aumentar a sua riqueza. A classe inferior nos dois continentes era para ambas
as classes dominantes o que sempre tinham sido, simples atributos de trabalho.
No início dos contactos entre portugueses e africanos a sul do deserto do Saará
o racismo era uma ideia desconhecida.
Com o
andar dos tempos e depois de muitos anos de comércio de escravos a maneira como
os europeus viam os africanos modificou-se totalmente. Uma mentalidade de gente
dominante cresceu entre os brancos e os negros deixaram de ser considerados
como pessoas. O comércio de escravos foi a causa desta transformação
impulssionada por um lado pela caça ao homem em África e por outro pelo
interesse comercial dos europeus e a tentação dos grandes lucros.
Vejamos o
que significava isto em África. O reis e chefes negros que tinham começado a
vender escravos aos europeus em troca de mercadorias europeias, eram no início
deste comércio, senhores altivos que dominavam sociedades estáveis e com um
certo bem estar. Mas para poderem continuar a mostrar o luxo que as mercadorias
europeias davam às suas cortes, eram obrigados a vender aos europeus cada vez
maior número de escravos.
Este
gênero de venda de escravos sem limites fez que as sociedades Áfricanas se
tornassem instáveis e os seus reis e chefes cada vez mais dependentes dos
europeus.
Quando os
europeus começaram a vender arcabuzes aos reis e chefes africanos este problema
aumentou de maneira notável. Adquirir este tipo de arma, dominante às armas
tradicionais, tornou-se uma necessidade imperiosa tanto para a caça aos
escravos como para a própria defesa. E isto também porque os europeus faziam
ativamente intrigas politicas entre os reis Áfricanos para provocarem novas
guerras que poderiam resultar em muitos prisioneiros, os quais os europeus
poderiam comprar como escravos. A igreja cristã estava sempre comprometida com
este tipo de provocação à guerra e como sempre, era um dos apoios principais
das casas reais europeas. Deixemos aqui dois exemplos de como este processo
crimionoso era feito.
O
primeiro vem do reino do Congo, um reino aproximadamente do mesmo tamanho que o
reino de Portugal, com o qual os portugueses estableceram contactos em 1482
quando as caravelas chegaram ao estuário do rio Congo. Passados anos, em 1506,
o reino do Congo tinha um monarca de nome mani-congo Nzinga Mbemba o qual em
1490 depois de ter estado em contato com os portugueses se tinha convertido à
fé cristã e mudado o nome para Dom Afonso. Este rei Dom Afonso reinou durante
quarenta anos.
Os europeus encontraram grandes cidades em África por vezes
maiores e mais bem organisadas que muitas cidades na Europa.
Na imagem a cidade de Loango, capital do reino de Loango
na costa da África ocidental, em
fronteira com o passado reino do Congo.
Em
Portugal estão arquivadas as cartas entre os reis de Portugal e o rei Dom
Afonso, sendo por isso as relações entre estes reis bem conhecidas. Estas
relações começaram com comércio, ajuda portuguesa em caso de guerra e o
pagamento de Dom Afonso aos portugueses com mercadorias africanas e um número
reduzido de escravos. Um grande rei como o mani-congo que enviava alguns
escravos a outro rei seu igual não era nada de especial, era uma parte da
tradição.
As cartas
entre os reis mostram que existia uma igualdade de trato entre o ”irmão real em
Portugal” e o ”todo poderoso e iluminado rei mani-congo”. Mas Dom Afonso não
podia prever as consequencias que o comércio de escravos iria produzir. Nessa
altura iniciou-se um processo no qual os chefes locais do país de Dom Afonso
ganhavam enormes riquezas, aumentando sempre o comércio de escravos até chegar
a um ponto onde já estava fora de qualquer controle. A fé crisã dos portugueses
não ajudou o irmão cristão no Congo.
Os
pedidos de ajuda que Dom Afonso enviou por carta ao rei de Portugal, para
acabar com o comércio de escravos e desenvolver o país com técnica europeia
nunca receberam resposta. Dom Afonso foi inclusivamente obrigado a criticar
padres e missionários, pedindo que não comprassem tantos escravos e ”vendo o seu devassamento, por amor de nosso
senhor Jesus Cristo que, se comprassem algumas peças (negros), que fossem
escravos e que não comprassem nenhuma mulher, por não darem mau exemplo nem
fazerem o rei ficar em mentira com sua gente”. Isto referia-se ao voto de
castidade que os padres e missionários não respeitavam ao contrário do que Dom
Afonso tinha ensinado ao seu povo. Para não serem descobertos no seu pecado e
crime os padres ameaçavam com a excomunhão a quem relatasse o que se estava a
passar.
Durante muitos
anos os comerciantes de escravos portugueses continuaram a escravizar todas as
pessoas que conseguiam raptar no Congo, inclusivamente jovens pretencentes à
casa real congolesa, que eram enviados para Portugal para estudar para padre ou
outras profissões e que em vez disso eram vendidos como escravos. A ajuda
técnica de Portugal ao Congo nunca foi dada, sendo as únicas mercadorias que os
congoleses receberam de Portugal produtos de consumo que depois de consumidos
obrigavam à compra de novos produtos, sempre pagos com mais escravos.
No ano de
1526, Dom Afonso fez uma tentativa para restablecer o controlo do comércio de
escravos com o fim de o diminuir ou mesmo acabar com o comércio. Dom Afonso
escreveu, a este respeito, uma carta ao rei de Portugal na qual denunciava os
comerciantes portugueses como ladrões sem consciencia que aprisionavam os
filhos e filhas da terra de tal maneira que ”a
nossa terra se despovoa toda”. E Dom Afonso continua:
”E para isto evitarmos, não temos necessidade
desses Reinos mais que de padres e algumas poucas pessoas para ensinarem nas
escolas, nem menos de nenhumas mercadorias, sómente vinho e farinha para o
Santo Sacramento, pro que pedimos a vossa alteza nos queira ajudar e favorecer
neste caso. Em mandar a seus feitores que não mandem cá mercadores nem
mercadorias, porque nossa vontade é que nestes Reinos (do Congo) não haja trato
de escravos nem saída para eles”.
Mas o
comércio de escravos era uma importante receita para os reis portugueses e foi
em vão que Dom Afonso tentou pôr fim a estas transações. O comércio de escravos
continuou a aumentar e nos fins de 1540 quando Dom Afonso morreu, o Congo
tinha-se transformado numa sociedade em decadencia e caos.
Prisão de pés dos escravos nos barcos da África à América.
Foi nesta
altura que os portugueses pela primeira vez começaram a fazer planos para
ocupar o país com uma invasão militar.
Para esse
efeito era necessário acabar com o sistema de vassalagens e alianças que
existiam entre os países na região do Congo e em especial separar o Congo do
seu aliado e vassalo a sul, o rei Dongo que tinha o titulo de ngola (de onde
vem o nome Angola).
Romper
alianças fortes feitas pela tradição não era missão fácil, sendo os
encarregados de o fazer, os padres jesuitas que se tinham estabelecido na ilha
de São Tomé com grandes plantações de cana de açucar à custa do trabalho de
escravos. Os jesuitas eram também grandes comerciantes de escravos sendo a ilha
o maior depósito de escravos para exportação de toda a costa ocidental africana.
Os padres
jesuitas de São Tomé trabalhavam para si próprios, esperando com a quebra do
poder do monarca do Congo um aumento substancial da venda de escravos e de
lucros.
Através
de intrigas conseguiram que o ngola em Dongo cortasse relações com o mani-congo
no ano de 1556. O mani-congo não podia premitir este corte de relações que lhe
diminuia o prestigio na região, e enviou um exército para submeter o ngola. Era
o que os jesuitas pretendiam. O Congo era um país em total decadencia e o seu
exército estava fraco, longe de ser o que tinha sido em tempos antigos quando
podia pôr em campo 80.000 soldados bem armados e equipados. O exército do ngola
ganhou a guerra e o poder do Congo ficou para sempre perdido. Aproveitando esta
ocasião, os portugueses instalaram-se pela primeira vez no continente Áfricano
com uma força militar.
Passados
nove anos os portugueses venceram o resto do exército do mani-congo e iniciaram
a ocupação de toda a costa africana ao sul do rio Congo. Foi uma guerra suja e
prolongada contra vários reis, onde os canhões e as espingardas modernas
juntamente com os padres e os missionários foram os instrumentos para matar,
intrigar, desestabilizar e conquistar. Mani-congo e outros reis e chefes
vencidos pelos portugueses, conservaram os seus postos depois destas guerras
mas desprovidos de poder, sómente como marionetes dos portugueses.
As
consequencias da vitória portuguesa foram enormes e terriveis. Foi um saque e
um morticinio sem limites. No ano de 1576 numa carta do padre jesuita Garcia
Simões, um comerciante de escravos que no passado tinha comprado escravos ao
mani-congo Dom Álvaro, lamentava-se este pelo grande número de mortos entre os
escravos, mais de 30% o que reduzia o lucro esperado. Mas apesar disso
exportaram-se desta região durante os próximos 120 anos, até ao ano 1680 mais
de 1,5 milhões de escravos!
A soma de
todos os escravos que vivos foram levados desta região está hoje avaliada em
mais de 5 milhões de pessoas o que é um pouco mais que a população de Angola
por volta de 1960.
Brutalidade
e humilhações foram impostas às populações negras, aumentando sempre os maus
tratos com os anos. Foi desta maneira que o pensamento racista de ser dominante
se foi implantando no homem branco.
A costa oriental africana
e os portugueses.
O caminho
marítimo para a India foi establecido pelos portugueses ao mesmo tempo que os
acontecimentos dramáticos no Congo davam origem à total decadencia do país. A
primeira viagem de Vasco da Gama inicíou-se em 1497, passando o Cabo da Boa
Esperança no sul de África em dezembro de 1497, a costa oriental africana em
1498, para chegar finalmente a Calcuta em 20 de Maio de 1498. À casa real
portuguesa foi então dada, através de uma bula papal, o monopólio das ligações
à Índia por mar. Ao fazer o reconhecimento da região para o relatório a
enviar ao rei de Portugal, Vasco da Gama encontrou cidades na costa oriental
Áfricana cujas casas eram construidas em pedra e com portos cheios de barcos de
mercadores, cidades que eram dominantes a muitas das cidades europeias desse
tempo no que diz respeito ao bem estar da população. Essas cidades, entre elas
Kilwa, Mombassa, Zanzibar, Brava, Quelimane e outras, eram o produto de muitos
anos de intercambio comercial e cultural entre africanos, arabes, indios e até
mesmo mercadores provenientes da China.
No ano de
1502 Vasco da Gama regressou à costa oriental de África. Desta vez trazia
ordens do rei de Portugal para tomar conta de todo o comércio desta região
enorme, não premitindo a mais nenhum mercador comprar as mercadorias índias,
arabes e africanas, establecendo assim um completo monopólio português. Assim
estava estipulado na bula papal que o rei de Portugal tinha obtido!
Em
primeiro lugar vinham as mercadorias e especiarias índias que o rei de Portugal
queria para vender na Europa. A missão de Vasco da Gama era de submeter todas
cidades importantes e centros de civilisação na costa oriental Áfricana e tomar
o poder na Índia.
Os
portugueses sob o comando de Vasco da Gama foram de uma barbaridade sem
limítes. Possuidores de armas muito mais avançadas, utilizaram de canhões e
armas de fogo para destruir e submeter as cidades na África oriental e na costa
indía.
Quando
Vasco da Gama chegou à Índia na sua segunda viagem, impôs um ultimato ao
princípe de Calcuta, exigindo que este pusesse fim a todas as relações
comerciais com os mercadores arabes e que estes fossem expulsos da cidade.
O
princípe de Calcuta fez uma tentativa para negociar mas Vasco da Gama exigia
total submissão. Os portugueses aprisionaram no porto uma quantidade de pessoas
que levaram para os barcos. Aí foram todos mortos e cortados aos pedaços sendo
as partes dos corpos penduradas nos mastos dos barcos de Vasco da Gama. Uma
parte dos pedaços dos corpos dos assassinados foram por ordem de Vasco da Gama
metidos num saco e enviados ao princípe de Calcuta com a mensagem de que era
para o princípe fazer arroz de caril.
Árabes e
índios tinham establecido relações comerciais civilizadas à mais de 1400 anos e
uma tal violencia era totalmente desconhecida. Nos seguintes dez anos os
portuguses utilizaram-se dos métodos mais brutais numa agressão sem limites e
destruiram cidades que tinham levado centenas de anos a constuir.
A conquista de Kilwa
A
discrição da conquista de Kilwa, uma pérola Áfricana no oceano Índico, pode
ficar como testemunho da violencia dos portugueses. O sangrente massacre de
Kilwa foi feito por um dos seguidores de Vasco da Gama, o almirante Francisco
de Almeida. A esquadra de Almeida entrou no porto de Kilwa e ocupou toda a zona
portuária sem encontrar nenhuma oposição da parte dos habitantes espantados com
tantos soldados. Atrás dos soldados vinham os padres e os fadres franciscanos
com uma grande cruz em procissão cantando um Te Deum. À frente do palácio do
rei de Kilwa foi elevada a cruz e o almirante Almeida leu em seguida uma série
de orações para os soldados, padres e fadres.
Kilwa, um centro de civilisação
existente centenas de anos antes da chegada dos portugueses
Quando as
orações terminaram começou o saque de Kilwa onde foram roubadas todas as
riquezas e alimentos sendo os habitantes que não conseguiram fugir vítimas de
uma violencia sem limítes com a pena de imediata decapitação para todos os que
opusessem a mínima resistencia. Passados dois dias de saque os portugueses
deitaram fogo à cidade. Este ataque bárbaro, assim como outros saques e
morticínios em África e na Índia, era considerado pelos saqueadores portugueses
como um acto totalmente legal. No fim de contas tinha sido o próprio papa que
tinha dado a autorização e os portugueses tinham mesmo antecipadamente já
recebido o perdão por todos os pecados cometidos!
Os
portugueses ganharam a guerra e assambarcaram o comércio das mercadorias no
oceano Índico, alegria que pouco durou uma vez que a guerra provocou o colapso
e desaparecimento do desejado comércio. Depois desta catástrofe os portugueses
foram incapazes de iníciar de novo o comércio de mercadorias e as cidades e
civilizações na costa oriental Áfricana, cairam em decadencia e muitos dos seus
habitantes desapareceram no comércio de escravos para o continente americano.
Os europeus de diferentes países que depois de muitos anos novamente invadiram
esta região, não encontraram restos da civilização passada e fizeram um juizo
dos seus habitantes como sendo seres incivilizados e inferiores. As causa desta
falta de provas de civilização nunca interessaram aos colonialistas europeus.
A classe dominante
europeia e o racismo
A
primeira casa real europeia que saiu pelos mares à caça de escravos foi a
portuguesa. Mas em breve aí estavam
todas as outras vindo de Espanha, Holanda, Inglaterra, França, Alemanha,
Dinamarka e Suécia com grandes investimentos no comércio com a África que quase
na totalidade era o comércio de escravos.
As casas
reais europeias e outras institiuções poderosas como a igreja cristã, exigiam o
pagamento dos lucros sobre os investimentos o que significava um aumento
constante do comércio de escravos aumentando sempre o número de barcos de
negreiros que traficavam o oceano Atlantico e mais tarde também o Índico. A
caça ao homem em África aumentou de uma maneira enorme, causando uma catástrofe
social sem limítes nas sociedades africanas. Ao mesmo tempo os investidores
europeus ficavam riquissimos.
Enfrentando
a história do comércio de escravos hoje, podemos ser levados a pensar que tudo
o que aconteceu fez-se sem problemas para os que detinham o poder nos países
europeus, que a classe dominante na Europa não encontrou resistencia contra o
comércio de escravos entre os povos europeus. Esta visão da história não
corresponde há realidade.
A
concepção de que os brancos como grupo se uniam contra os negros, a concepção
de que na Europa não existia oposição ao comércio de escravos é geralmente
aceite mas totalmente falsa. Esta concepção é um produto do que nos fazem
aprender nos livros da escola.
Em que
país, que no passado se dedicava ao comércio de escravos, existem hoje livros
escolares que de uma maneira justa contam esta história terrível? Quando dão ao
comércio de escravos a importância central que teve desde o ano 1500 até ao fim
de 1800 durante o desenvolvimento da sociedade capitalista em que vivemos hoje?
Hoje em dia o comércio de escravos só é normalmente referido em pequenas
observações como se trata-se de um pequeno acontecimento sem importância.
Em
Portugal tem-se, por exemplo, festejado nos últimos anos (1997), os 500 anos
dos chamados ”descobrimentos” portugueses. Tem havido festas, discurssos,
conferencias, exposições, livros novos sobre o tema, etc. Padres, doutores e
professores participam em debates e palestras e escrevem artigos nos jornais
(sempre bem pagos, claro está). Mas do comércio de escravos quase nunca se fala
e quando é referido é como se se tratasse de um fenómeno sem importancia e sem
consequencias para a sociedade em que vivemos hoje.
Qual é
então o conhecimento que o povo português nestas comemorações obtém sobre os
acontecimentos em África durante esses 500 anos? Um conhecimento histórico
totalmente falso!
Da mesma
maneira é o comércio de escravos tratado pelos governantes de todas os países
europeus. A classe dominante hoje existente é a herdeira cultural da classe dos
comerciante de escravos do passado e por isso tudo faz para esconder a verdade
ao povo, quer dizer a nós próprios. Há que ter cuidado de não ir nas mentiras
da classe dominante e investigar qual é a verdade sobre o passado. Há que ter
cuidado com os que nos querem fazer acreditar que todas as pessoas na Europa
tinham um interesse comum no comércio de escravos, que todos são culpados pelos
crimes contra os povos de África.
A Europa
na idade média era uma sociedade de classes onde existiam diferentes ideias e
concepções sobre o desenvolvimento social, ideias e concepções essas
dependentes da origem de classe. A razão porque nós hoje só conhecemos a
concepção da classe dominante do passado, também no que respeita ao comércio de
escravos, é que a classe dominante de então tinha todos os meios e poderes
necessários para propagar a sua ideologia e opiniões e faze-las impôr á
sociedade. Ao seu seviço tinham policias, padres, militares, prisões, juizes e
propagandistas de todos os tipos, enfim tudo o que fazia parte do poder estatal.
Tudo isto dominou a sociedade durante muitos anos e deixou uma herança funesta.
Mas na
realidade existiam também os que eram contra o comércio de escravos e contra a
opressão que dominava na Europa. Essas pessoas tinham poucas possibilidades de
dar a conhecer as suas opiniões e foram esquecidas na investigação histórica
sendo hoje um capitulo desconhecido do público em geral. Até mesmo na classe
dominante do passado, entre a nobreza e o clero, existiram pessoas que se
opuseram à guerra e ao comércio de escravos em África e que desta maneira foram
contra o seu interesse de classe.
Ao
contrário do povo, que era analfabeto e por isso mesmo não nos deixou as suas
opiniões a não ser em passagens nos contos da classe dominante, os oponentes
provenientes da classe dominante, embora também muítas vezes analfabetos,
tinham a possibilidade de mandar escrever as suas opiniões e pareceres o que
nos chega até hoje. Deixemos aqui um exemplo, talvez um dos primeiros
opositores contra a matança que as classes dominantes europeias estavam a fazer
em África. O seu nome era Infante D. João sendo sobrinho do Infante D. Henrique.
O escrivão Rui de Pina foi encarregado de escrever as opiniões do Infante D. João
sobre a guerra que os portugueses faziam contra os mouros em África, para onde
a nobreza enviava os seus chefes e tropas em oposicão ao povo português que não
queria deixar as suas casas e quintas.
O Infante
D. João pensava que se a guerra era ao serviço de Deus ”todos não iriam com tal intenção que uns por honra, outros riqueza e
ganança, besteiros, peõs e tôda outra gente, vão renegando, ainda que lhe
preze; e quem mata Mouro com tal intenção não peca menos que matar Cristão;
pois que serviço de Deus é dar tantas almas ao demo? Certamente mais se pode
dizer deserviço que serviço”. Sém dúvida é este testemunho de muito
interesse e só é pena hoje não sabermos o que pensavam o povo trabalhador que
não queriam deixar as suas casas para ir fazer a guerra em África.
A classe
no poder combatia toda a oposição e utilizava o aparelho de estado para fazer
propaganda das suas opiniões. Por esta razão é muito importante conhecer o
papel que estes propagandistas das classes dominantees tiveram no aparecimento
do rasismo. Esses propagandistas, que eram dirigidos directamente pelas casas
reais e pela oligarquia financeira, encontravam-se entre os professores nas
escolas e universidades e nos prelados da igreja cristã, de onde os
preconceitos rasistas se espalhavam com uma capa ”cientifica” e ”moral”.
A igreja cristã espalha o
racismo
Uma das
primeiras fontes que por escrito e com imagens descreveu a vida em África aos
europeus, é um livro do frade Cavazzi, um missionário italiano da ordem dos
Capuchinhos, publicado em Bolonha em 1687.
No seu
livro, o frade Cavazzi dá a sua aprovação a todas fantasias e preconceitos que
dos tempos longínquos existiam na Europa sobre o continente Áfricano e aumenta
inclusivamente essas falsidades. Por exemplo conta o frade Cavazzi com todos os
pormenores como os africanos são gente que gosta de carna humana e inclui
também um desenho com uma cena de canibalismo em que se vê um grupo de africanos
a cortar pessoas aos pedaços que são postos a cozer numa panela enorme para a
refeição.
Além
disso conta-nos o frade Cavazzi que os Áfricanos são gente sempre envolvida em
guerras com muitos mortos. O frade Cavazzi escreve que: ”A dança, entre estes barbaros, não tem qualquer motivação no talento
virtuoso de exibir movimentos corporais ou agildade de pés, mas apenas
objectivos de satisfação depravada de apitites libidinosos”.
É fácil
de compreender o impacto negativo que um livro destes teve na Europa do
passado.
Mas na
realidade o padre Cavazzi não foi o primeiro a fazer propaganda desta. Os
primeiros que desde o início foram os propagandistas do racismo e do comércio
de escravos foram os papas no Vaticano. Como já contámos foram os papas, que
utilizando a sua grande autoridade moral, através das bulas, deram os direitos
à classe dominante da Europa de em África ”atacar,
conquistar e submeter Sarracenos, pagãos e outros descrentes inimigos de
Cristo; a capturar os seus bens e territórios; a reduzi-los à escravatura
perpétua”. Além disso os papas deram a todos os que participavam nas
guerras e conquistas em África ”a
absolvição total de todos os seus pecados” passados e futuros!
Talvez
pense o leitor que este tipo de decreto papal foi sómente feito por papas no
anos de 1400. Mas não foi assim! Antes de todas as guerras, saqueamentos e
massacres, as chamadas conquistas portuguesas, os papas voltaram a repetir a ”absolvição de todos os pecados” que
fossem cometidos. Estas declarações marcaram as acções de padres, frades,
militares e todos os outros europeus em África e pelo mundo fora durante
séculos. Na realidade, nenhum dos cinquenta e seis papas que existiram de 1947 até
hoje, anulou ou pelo menos criticou as bula papais que fizeram do homem negro
em África um objecto de caça que se podia matar ou condenar a escravatura
prepétua. Na realidade, se considerarmos as formalidades da igreja cristã,
ainda hoje essa bulas criminosas são válidas!
No
passado as declarações dos papas tinham uma importancia muito grande nos
conceitos e ideologias dos europeus. Mas a importancia das declarações dos
papas nas vida e actividades dos religiosos em África e na sua maneira de
considerar os africanos eram ainda mais importante. Quem estudar a verdadeira
história de África vai encontrar uma história das actividades das igrejas e os
missionários que é completamente diferente da história que as igrejas hoje
pretendem impingir.
Os padres
e frades andaram sempre de mão dadas com os saqueadores conquistadores e
tiveram sempre os mesmos preconceitos raciais que estes tinham. Entre os
religiosos em África existia desde o pricipio dos anos 1500 a concepção geral
de que a ”melhor pregação” era feita
com ”a espada e a barra de ferro”.
Assim
explicava numa carta em 1563, o padre jesuita Anchieta (que em 1980 foi
beatizado, declarado santo, pelo papa João Paulo II!), os métodos que os
religiosos no Brasil utilizavam contra os índios. O santo Anchieta escrevia que
”…para este género de gente não há melhor
pregação do que a espada e vara de ferro, porque para esta gente, mais que
qualquer outra, tem que ser compelle eos intrare”. Anchieta faz aqui uma
citação da bíblia, Lucas XIV 23 – compelle
eos intrare – significa obrigar as pessoas a entrar, obrigar as pessoas a
converterem-se à igreja cristã.
A missão das igrejas cristãns em África
O padre
jesuita Garcia Simões escreveu de Luanda ao Provincial jesuita, a 20 de Outobro
de 1575 dizendo que em Angola ”quase
todos concordam que a conversão destes bárbaros não se alcançará por amor,
senão que só depois que por armas forem sujeitos a vassalos do Rei Nosso
Senhor”. Um outro jesuita, o padre Francisco de Gouveia, escreveu que ”estes selvagens bárbaros não podem ser
convertidos por métodos de persuação pacífica… O cristianismo em Angola deve
ser imposto pela força”.
Na
realidade estes conceitos racistas marcam as atitudes dos missionários cristãos
em todo o mundo, só com exceção dos países em que os colonizadores não tinham o
poder militar nas suas mãos. Na Índia, por exemplo, os padres e frades
utilizaram os mesmos métodos violentos de África para converter as pessoas ao
cristianismo. A opreção religiosa contra induistas, budistas e muçulmanos
quando os cristão conseguiram a supermacia militar é uma história
impressionante de violencia, opreção e racismo. O melhor de todos os cristãos,
o santo Francisco Xavier, cujo mausoleum grandioso ainda hoje se encontra
guardado na igreja de Bom Jesus em Goa, tinha um método especial para converter
os pescadores que habitavam na sua jurisdição. Todos os que não se convertiam
ao cristianismo eram ameaçados com violencia física e, o que ainda era pior,
eram-lhes tirada a autorização de pescar e vender peixe, ou seja, ficavam sem
sustento.
O racismo
dos padres contra as pessoas negras em África marcou todo o periodo do comércio
de escravos e o tempo do colonialismo que se seguiu. O racismo e o tratamento
repugnante que davam às pessoas negras, aumentou com o deterioramento da
estrutura social pelo comércio de escravos que deixava as pessoas sem proteção.
No Congo
teve este racismo religioso consequencias imprecedentes. Quando os portugueses
começaram a infiltrar o Congo e Angola, os missionários eram pagos, de maneira
muito generosa, pelo mani-congo, o rei do Congo. Mas com o decorrer dos tempos
e o deterioramento da sociedade congolesa, o Congo foi obrigado a aceitar uma
quantidade muito maior de missionários. No fim dos anos 1700 já não havia
dinheiro que chegasse para pagar a todos estes padres parasítas. Mas os padres
não desistiram. Arranjaram um sistema em que eram pagos directamente pelos negreiros,
sendo todos os negreiros obrigados a pagar um ”imposto de baptismo” aos padres
por todos os presos que metiam nos navios negreiros. Além disso, o Bispo de
Luanda cobrava um ”imposto de baptismo” pessoal por cada preso!
Os padres
tinham por isso interesse pessoal no aumento do comércio de escravos. Quanto
mais pessoas se vendiam, tanto maior era o pago dos padres! Aqui está a
verdadeira imagem da missão cristã. Claro está que estes parasitas defendiam a
sua atitude nos contactos que tinham com a Europa falando dos africanos como
seres de condição baixa, os padres tornaram-se num dos melhores aliados das
classes dominantees para espalhar as ideias racistas.
Até aqui
temos falado da igreja cristã sem fazer diferença entre católicos e
protestantes, sendo as questões levantadas, na sua maioria, de origem católica.
Assim foi porque os portugueses católicos foram os primeiros a chegar a África
e são esses primeiros caçadores de seres humanos que nós temos descrito.
Mas na
realidade a diferença entre as duas partes da igreja cristã no que diz respeito
às opiniões rasistas dos padres e missionários e tratamento que davam aos africanos,
não era grande. Em princípio era na questão da existencia da alma que católicos
e protestantes se diferenciavam. Os católicos consideravam as pessoas negras
como pessoas subdesenvolvidas, mas com alma, que por causas biológicas
assossiadas à côr negra da pele, não podiam tornar-se pessoas ”verdadeiras”, ou
seja, pessoas brancas. Os protestantes consideravam que as pessoas negras não
tinham alma e que portanto na realidade eram como animais com parecença humana.
Na
prática esta diferença pouca importancia tinha porque tanto católicos como
protestantes tratavam as pessoas negras pior do que os seus animais.
Mas às
vezes, em questões relativas à sociedade burguesa, tomava a questão da
existência ou não existência da alma uma importância definitiva em juizos de
caracter económico. Isto acontecia quando por exemplo os escravos vivos eram
atirados ao mar dos barcos de negreiros, muítas vezes às centenas, em caso de
doença ou quando era preciso diminiur a carga do navio em avarias gráves ou mar
bravo. Nos processos jurídicos que se seguiam sobre a indeminização económica
pela ”carga” viva perdida, a questão da alma tinha uma importancia vital.
A
questão, segundo os contractos de seguro, era a seguinte. Se os escravos não
tinham alma eram a considerar como uma mercadoria qualquer. Eram atirados ao
mar, mortos ou vivos, o preojuizo era do armador. Mas se os escravos tinham
alma então eram considerados como pessoas e o problema era diferente. Se eles
morressem a bordo, o seu valor humano estava acabado e não dava direito à
indemenização do seguro. Mas se fossem atirados ao mar vivos, eram pessoas que
se perdiam o que dava direito a indeminização do seguro. Claro que a última
possibilidade era caso de assassínio mas juridicamente legal.
A
conclusão é que os armadores tanto católicos como protestantes lutavam em
tribunal para que fosse reconhecido a concepção católica, de que as pessoas
negras eram pessoas ”verdadeiras” com alma. Se o tribunal aceitasse esta
concepção dos africanos, os armadores recebiam a indeminização do seguro pelos
africanos atirados ao mar, assassinados. Do outro lado da barra lutavam os
capitalistas de seguros, católicos e protestantes, para que o tribunal
considerasse as pessoas negras como não tendo alma, como animais de parecença
humana, para não terem que pagar o dinheiro do seguro!
Mas dos africanos
assassinados ninguém se importava, nem armadores ou seguradores, católicos ou
protestantes, ou mesmo a própria justiça na Europa civilizada! Não esqueçamos
que tudo isto teve lugar na Europa de1700 e 1800! Esta era a situação dos africanos
raptados, presos e escravisados nas mãos dos lacaios da classe dominante
europeia.
Todos estes
acontecimentos não impediam os padres de aprovar a escravatura e considera-la
positiva. Assim o fez por escrito o padre protestante Thomas Thompson em 1778
num panfleto com o titúlo ”The Áfrican
Trade for Negro Slaves Shown to be Consistent with the Principles of Humanity
and the Laws of Revealed Religion” – ”O comércio Áfricano de escravos negros
demonstra-se ser compatível com os princípios de humanidade e as leis da
relegião verdadeira”. Thompson foi um dos primeiros professores europeus na
Costa da Guiné e sabia muito bem o que lá se passava. Não é dificil de
compeender que tipo de interesse este Thompson tinha no comércio de escravos.
Barco de escravos dinamaquês, 1788
Um outro
exemplo, vindo dos cristãos protestantes em África no século de 1600 e que tem
consequencias até aos dias de hoje, é também importante conhecer.
No ano de
1652 a Companhia Holandesa da Asia Oriental deixou um grupo de homens no
extremo sul de África, perto do Cabo da Boa Esperança, para aí construirem um
estação de reabastecimento para os barcos da Companhia na rota para o Extremo
Oriente. O trabalho desses homens era plantar vegetais e produzir carne para as
tripulações dos barcos nessa rota. O grupo era relativamente pequeno mas foi
sempre crescendo com a chegada de novos colononos e a pequena colónia da cidade
do Cabo tornou-se com o tempo numa expansiva colónia autónoma de camponeses. Os
habitantes, que eram profundamente religiosos, conservadores e confessos da
igreja protestande holandesa, deixaram de se chamar holandeses e passaram a
usar o nome de Boers.
Estes
Boers resolveram o problema do aumento necessário da força de trabalho reduzindo
à escravidão os povos africanos Bushman,
Nana e outros, com quem tinham feito contatos durante a expansão da colónia
para o interior. Os Boers tinham armas modernas, espingardas e canhões e não
exitavam em as utilizar para subjugar os africanos.
Escravizar
outros povos era, segundo os Boers, um direito que lhes tinha sido dado na
Bíblia, no conto dos filhos de Ham, do qual se concluía que todos os Boers
tinham recebido de Deus o direito de ter escravos como força de trabalho!
O conto
dos filhos de Ham está na Biblia no primeiro livro de Moisés, capitulo nove, 18
e seguintes. O conto resume-se ao seguinte. Ham, um dos filhos de Noé, tinha
uma vez visto o seu pai nu e embriagado no chão da sua tenda. Quando Noé já
sóbrio veio a saber que o filho o tinha visto nesse estado, castigou Ham com
uma maldição em que todos os descendentes de Ham estavam condenados a ser
escravos.
Este
conto bíblico tem sido utilizado muítas vezes pelos cristãos em diferentes
ocasiões históricas para explicar a existencia da escravatura ou a existência
das grandes massas que são obrigadas a viver uma vida na miséria. São os
descendentes dos filhos de Ham!
Para nós,
que não acreditamos nos fetichismos religiosos, este conto dos filhos do Ham é
totalmente inaceitável. Mas para os Boers com a sua fé na Bíblia, era evidente
que as pessoas negras tinham um valor inferior aos brancos e que tinham sido
postas por Deus em África para servir os brancos quando eles aí chegassem!
Nas côres
simbolicas da igreja cristã o negro sempre foi e ainda é relacionado com o
inferno, morte, pecado, maldade, traição, sujidade, decadência, feio e muítas
outras particularidades negativas.
A
concepção dos Boers sobre as pessoas das regiões por eles conquistadas era um
producto de tudo isto. Em tempo moderno explicavam a escravatura dizendo que ”essa gente trabalha para nós para pagar por
os deixarmos viver na nossa terra”.
Este conceito espalhou-se na África do Sul onde os europeus tinham o poder e
existe ainda hoje em muitos lugares.
Durante o
século de 1800 os ingleses proibiram a escravatura na colónia do Cabo e os
Boers foram obrigados a relacionarem-se com as pessoas negras de outra maneira.
Já não era permitido ter as pessoas negras como escravos, mas a exploração, por
outro lado, podia continuar. Eram necessárias teorias novas que pudessem
justificar uma forma nova de exploração.
Os Boers
da igreja protestante holandesa começaram então a fazer propaganda para que os
brancos e os negros vivessem separados. Os Boers diziam agora que se Deus tinha
feito pessoas brancas e negras era para que elas vivessem separadas. Se Deus
quisesse que todos vivessem juntos tinha feito todos da mesma côr.
Com este
tipo de conceitos os Boers ganharam adeptos na sociedade branca na África do
Sul para dividir o país numa parte
branca e numa parte negra – o Apartheid. A parte negra servia como um grande
campo de concentração, como um depósito de força de trabalho a utilizar pela
sociedade branca. Durante centenas de anos o fanatismo cristão que aprovou a
escravatura e o apartheid teve um efeito terrivel e desastroso na vida de
milhões e milhões de pessoas na África do Sul.
O Diabo e a Diaba em
Amarante
Quando se
pensa que já se viu de tudo, aparece sempre algo novo. A verdade contida nesta
frase tronou-se realidade há alguns anos quando eu visitava Amarante, um bonita
pequena cidade no norte de Portugal, perto do Porto. O que nos atraiu a
Amarante foi a história num folheto turístico sobre um par de estátuas
representando dois diabos que estão no museu da cidade, anterior Convento de S.
Gonçalo, pegado à igreja do mesmo nome.
O que nos
levou a Amarante foi especialmente o fato de um dos diabos ser uma ”diaba”. Uma
”diaba” nunca tinhamos visto. O que tinham os portugueses inventado?
Segundo o
folheto turístico, as estátuas são de cerca de 1700. O par de diabos estava
então colocado na igreja entre santos e anjos, certamente para mostrar o
contraste entre o bem e o mal e desta maneira fortalecer a fé dos crentes. Mas
o efeito não foi bem este, pois com o passar dos anos as figuras dos diabos
tornaram-se bem queridas aos habitantes da cidade, dando origem a uma grande
festa para comemorar os diabos, todos os anos no dia 24 de Agosto.
Nesse dia
ninguém trabalhava na cidade e muitas pessoas iam à igreja com ofertas para …
os diabos! Os diabos eram enfeitados por populares com faixas e flores e até
lhes davam comer e dinheiro. Esta popularidade desagradava ao bispo da região
que em 1870 tentou acabar com os diabos e a tradição. O bispo deu ordem para
queimar as estátuas, com o pretexto de que o diabo, que tinha um pénis enorme,
não ficava bem na igreja entre santos e anjos! Mas aqui começaram as
dificuldades do bispo. Entre a população não foi possivel encontrar quem
deitasse fogo aos diabos. Os que tinham ordens do bispo para queimar os diabos,
serraram o atributo sexual do diabo, fazendo-o mais apresentável, e voltaram a
pôr os diabos na igreja.
Mas a
padralhada já se tinha dicidido de se desfazer dos diabos e alguns anos mais
tarde as estátuas foram vendidas a um colecionador em Inglaterra. Isto foi
coisa que os padres não deviam de ter feito. O facto é que dada a opinião
contra a venda dos diabos que se formou em Amarante, os padres foram obrigados
a comprar novamente as estátuas e trazê-las para a cidade.
Depois de
termos lido esta história interessante no folheto turístico tornou-se imperioso
ir a Amarante para ver os diabos.
Ver as
estátuas dos diabos foi um choque para nós. As estátuas em madeira preta, com
cerca de um metro de altura, representam dois negros africanos com chifres e
pés de galo como são apresentados os diabos na igreja católica. O fato de que as
estátuas representam negros africanos não estava escrito no folheto turístico!
A
fisionomia das estátuas merece ser observada. Além das caracteristicas de
diabo, os chifres e os pés de galo, os africanos nas estátuas mostram uma
grande alegria, com grandes sorrisos nos lábios, em profundo contraste com as
estátuas dos santos sempre muito sérios e passando grande sofrimento. Além disso
não esqueçamos que o homem africano que representa o diabo tinha tido um pénis
enorme.
O Diabo e a Diaba de Amarante
Tudo isto
mostra dois dos mítos rasistas que a classe dominante comerciante de escravos
espalhou sobre os africanos negros. A alegria mostra o míto dos Áfricanos como
acriançados e subdesenvolvidos de nascença, o pénis enorme o míto dos desejos
sexuais insaciáveis dos negros, a sua única razão de viver. O diabo e a diaba
em Amarante mostram abertamente a igreja católica como um dos propagandistas do
racismo.
Mas a
história dos diabos mostra também que nem sempre é fácil para a classe
dominante levar o povo a acreditar na propaganda racista mesmo quando padres e
bispos o querem obrigar. Em Amarante o feitiço virou-se contra o feiticeiro!
O racismo ”cientifico”dos
professores
Por agora
chega sobre a padralhada racista. Vejamos agora o que os cientistas,
professores e viajantes diziam da África e dos africanos.
Uma
maneira de fazermos uma ideia das concepções que se espalhavam sobre a África
durante 1600 e 1700 é observar os mapas então existentes sobre o continente. Na
realidade os europeus, até ao meio dos anos 1800, pouco ou nada sabiam do
interior de África uma vez que quase nenhum europeu aí tinha estado. Por isso,
além das regiões costeiras que eram conhecidas, os mapas de África deviam de
ser completamente em branco. Mas não eram! A fantasia dos cientistas foi
deixada à solta e os mapas foram preenchidos com rios e montanhas, florestas e
savanas, tudo isto cheio de monstros de todos os tamanhos e feitíos, à
semelhança do elefante, terrivelmente perigosos e existindo num mundo mau e
incivilisado.
Assim se
escreviam também livros e folhetos. Um dos primeiros livros publicados sobre
África, que teve um papel importante no debate científico de então em que formaram
os conceitos dos europeus sobre o continente Áfricano. Foi o livro de Daniel
Defoe ”Capitão Singleton” publicado em 1720. O livro, na realidade um romance,
descreve a aventura de um grupo de náufragos na sua viagem a pé desde
Madagascar, através de todo o continente até à costa ocidental. O grupo de
náufragos passou por aventuras terríveis e cada página do livro compete com a
anterior nas descrições mais incríveis sobre aventuras com tribos de homens
animais. O grupo salvou-se à custa dos arcabuzes, a única lingua ”que esses selvagens indígenas repeitavam”.
Deste
tipo de contos e outros semelhantes foram crescendo os grandes mítos da
propaganda pela escravatura. Os comerciantes de escravos garantiam que na
realidade os europeus faziam um favor aos negros africanos quando os vendiam
como escravo e os negros finalmente podiam deixar a barbaridade africana.
O mesmo
tema com certas variações apareceu em livros e folhetos que circulavam entre a
classe instruída, em escolas e universidade. Num destes folhetos publicado em
Liverpool em 1792 escreve-se ”Como os
Áfricanos são os mais lascivos de todos os seres humanos, não será de crer que
os gritos que soltam quando os arrancamos aos braços das suas mulheres resultam
apenas do receio de nunca mais terem oportunidade de satisfazer as suas paixões
lá nas terras para onde os embarcam?”
Desta
maneira se escondia a verdade às pessoas na Europa sobre os africanos que eram
raptados e para sempre enviados para longe das suas famílias.
Passados
cem anos, no ano de 1896, a situação não tinha melhorado. Na realidade o tom ”cientifico” na propaganda rasista tinha
aumentado. O professor Keane escreveu por exemplo sobre os africanos que ”a sua inerente inferioridade mental, quase
ainda mais marcada que as suas caracteristiscas físicas, depende de causas
fisiológicas…”
Não
esqueçamos que foram este tipo de conceitos que educaram e instruiram muítas
gerações de europeus como se fossem verdades provadas. O aceitamento pelos
intelectuais europeus das exigencias da classe dominante foi de tal maneira que
muitos prestaram-se a contradizer os seus conhecimentos e experiencia pessoal
para não contrariar o ambiente racista existente. O consul inglês, Sir Harry
Johnston, escreveu em 1910 (!) a seguinte apreciação sobre o reino do Congo:
”Sem dúvida, a actuação dos portugueses ….
Provocou alguns movimentos surpreendentes ao longo de toda a costa da África
ocidental e na bacia meridional do Congo, movimentos que levaram à criação de
alguns reinos organizados que criaram e estimularam o comércio e que, nos seus
efeitos gerais sobre as pessoas, foram talvez menos horríveis que a anarquia de
selvagens canibais”.
Não
existe nem uma grama de verdade nas afirmações de Johnston. O reino do Congo
existia muito antes de os portugueses chegarem a África e era uma sociedade
estável onde as pessoas tinham um certo nível de bem estar. Os portugueses
transformaram o Congo e as outras partes da costa litoral em campos de morte e
escravidão, uma miséria humana e humilhação que aí ficou por centenas de anos.
Mas as
declarações ”cientificas” de Sir
Harry Johnston não se limitaram a esta questão. Ele continua:
”No que respeita à soma de infortúnio humano na
África, é provável que o comércio de escravos entre aquele continente e a
América pouco lhe tenha acrescentado. Até certo ponto, terá até mitigado o
sofrimento do negro na sua própria terra, pois uma vez tal comércio organizado,
e já que era lucrativo vender um ser humano, muito homem, mulher ou criança que
caso contrário podia ter sido morto por mero capricho, ou pelo gosto de ver
correr sangue, ou como ingrediente saboroso de um banquete, passou a ser
vendido a um negociante de escravos…”
Assim Sir
Johnston fazia propaganda do comércio de escravos como sendo um maneira de os
europeus se oporem ao canibalismo, uma maneira dos africanos não serem comidos
por outros africanos! Sir Johnston repetia as opiniões dos negreiros de
Liverpool, que chegavam a pretender que o comércio podia levar à África ”um surto de felicidade”!
Os livros
de Sir Johnston contavam-se entre as obras mais importantes que se discutiam
nas escolas e universidades. Que importância não tiveram as afirmações de
Johnston e de outros como ele para aumentar e espalhar o racismo e dar-lhe uma
certa autoridade? E outra questão opurtuna: quanto é que o Johnston e os outros
não meteram ao bolso como pagamento da falsificação da realidade?
Aqui fica
mais um exemplo do baixo nível intelectual, desta vez de 1928 (!), dos manuais
britânicos clássicos sobre a história de África oriental do esritor R.
Coupland:
”Com David Livingstone, abre-se um novo capítulo
na história da África. Até aqui pode dizer-se que a África própriamente dita
não tivera história…O grosso dos Áfricanos premanecera, durante séculos
imemoriais, mergulhado em barbarismo. Pode quase parecer que tal fora uma
disposição da Natureza…E assim permaneceram estagnados, sem progredir nem
regredir…O coração da África mal batia”.
Veja-se
lá isto, a história da África tinha começado com a chegada dos europeus!
Este tipo
de opiniões, que no ano de 1929 eram dadas como se fossem verdadeira ”ciência”, só pode ter origem num pensamento racista que destroi totalmente
a investigação científica. Negar aos africanos a sua própria história é um dos
piores crimes da classe dominante europeia. O objectivo era de uma maneira
definitiva fazer dos africanos, seres sem dignidade humana e fazer aceitável e
juridicamente legal, o comércio de escravos e o colonialismo de 1900.
A
propaganda racista feita pelo capitalismo e pelo imperialismo não acabou com a
sociedade moderna em que vivemos hoje. A classe dominante de hoje continua a
defender os crimes do capitalismo contra a humanidade e opiniões velhas mais de
mil vezes provadas como falsas, aperecem de novo como se fossem argumentos
válidos.
Um dos
escritores deste século, conhecido pela sua obra extensa (mais de dez livros)
sobre os anos ”grandiosos” do
imperialismo britânico é James A. Williamson. Williamson escreveu dois livros
sobre Sir John Hawkins, o comerciante de escravos dos anos de 1500 que escolheu
um homem negro acorrentado como simbolo do seu brasão.
Williamson,
que é um grande admirador do negreiro Hawkins, explica a participação de
Hawkins no comércio de escravos da seguinte maneira, no seu livro ”Hawkins of
Plymouth” publicado em 1949.
”Nimgém via mal nenhum no comércio de escravos.
John Hawkins, que queria conservar um nome respeitável, não se envergonhava de
comerciar em escravos, senão não tinha escolhido para seu brasão um homem
negro, acorrentado. Ele tinha visto as tiranías caprichosas e sanguentas a que
os negros eram submetidos em África, ele sabia que alguns negros
voluntáriamente se tinham entregado aos escravistas para daí escaparem, e ele
sabia também que os negros eram valiosos nas colónias ocidentais e que por isso
podiam estar certos de ser tratados pelos seus donos de uma maneira que essas
pobres almas certamente achavam bom”.
Que
mistura de falsificações históricas! Está hoje provado não existir a mais
pequena verdade histórica na descrição que Williamson faz da situação em África
no centenário de 1500, mas a classe capitalista continua a espalhar as
fantasias de Williamson a novas gerações. O livro que faz do negreiro Hawkins um
herói, foi de novo publicado em 1969 e está referido na prestigiosa
Enciclopédia Britânica.
Esta
Enciclopédia Britânica também é um caso triste de falta de memória. No exemplar
desta enciclopédia de 1910 pode-se lêr que o negreiro John Hawins escolheu para
seu brasão um homem negro acorrentado (he was granted a coat of arms with a
demi-Moor or negro chained, as his crest). Esta informação desapareceu na
última edição da Enciclopédia Britânica em 1995. Nos tempos de liberdade em que
vivemos, os heróis da burguesia passaram a ser incómodos e há que esconder as
façanhas.
Como Portugal perdeu o
rei
Façamos
agora um pequeno parentes para contar como a casa real portuguesa desapareceu
de repente em 1580.
A
história é simples. No ano de 1557 o trono foi herdado por um príncipe de três
anos chamado Sebastião. O menino foi submetido a um educação profundamente
religiosa sob a autoridade do seu tio-avô, o cardeal D. Henrique, arcebispo de
Lisboa e chefe máximo da tenebrosa Inquisição.
O rei
Sebastião fez-se um fanático religioso. Odiava a ideia de se casar e dar
herdeiros à coroa portuguesa. Para ele a castidade era o mais importante, o
símbolo da pureza. A educação dos jesuitas tinha ensinado ao menino que quando
ele crescesse, a sua missão seria iníciar novas cruzadas contra os infíeis na
África do Norte e com armas na mão ganhar grandes vitórias para a cristandade.
Aos
catorze anos o jovem Sebastião foi coroado rei de Portugal e os sonhos iriam
começar a ser realidade. Característico durante o seu governo são o elevado
número de atividades religiosas e as preparação de uma cruzada que de uma
maneira definitíva iria vencêr os infieis em Marrocos.
No anos
de 1578 estava tudo pronto. O rei Sebastião convidou todos os nobres e
cavaleiros a tomar parte da nova cruzada. Novas espadas tomaram forma e os
barcos foram preparados.
O próprio
rei garantía antecipadamente que íam ganhar vitórias fantásticas e que os
cruzados trariam para suas casas riquezas sem fim – promessa feita por Deus e
pelos jesuítas. Os nobres portugueses embarcaram em peso num luxo enorme,
levando as suas amantes e criados, e os talheres mais finos e preparando-se
para um passeio pitoresco onde os cristãos portugueses, os escolhidos por Deus,
iriam conquistar a terra dos infieis. Para levar as bagagens da nobreza aos
barcos foram precisas mais de mil carroças! Os criados, pessoal de cozinha,
escravos e prostitutas eram mais de treze mil. Compare este número com o
exército de dezessete mil homens!
O exercito árabe sob o comando de Mulei Abdelmalek
Mas do
outro lado do mar não era um passeio o que esperava. Do outro lado do mar quem
tinha o comando era o famoso Mulei
Abdelmalek. O exército árabe estava bem preparado e o passeio portugês teve
um fim inesperado em El-Ksar-el-Kebir,
(Alcácer Quibir), onde o exército portugês foi completamente dizimado. Quase metade,
cerca de 7000 homens, foram mortos em poucas horas, só cem conseguiram fugir,
sendo os restantes prisioneiros. A destruição e o saque que lhe segiu foi tal
que levou vários dias a encontrar o cadáver do rei Sebastião! Alguns
prisioneiros conseguiram comprar a sua liberdade e voltar a Portugal. A maioría
ficou como escravos em Marrocos.
O
fanatismo religioso deu origem a tempos muito difíceis para o povo em Portugal,
sendo obrigados a pagar grandes resgates pelos nobres presos e ao mesmo tempo
explorados pelos reis de Espanha que conservaram o trono de Portugal até 1640.
Abulição da escravatura e ocupação militar de África
Durante
os primeiros anos de 1800, a opinião pública e o movimento organisado contra o
comércio de escravos e a escravatura começaram a tornar-se fortes e a ter
importancia política em vários países da Europa. A opinião que ía crescendo
tinha como causa principal o fato de que o verdadeiro tamanho do comércio de
escravos e a maneira miserável como era feito começou nessa altura a ser amplamente
conhecido nos países europeus. Tudo começou nos fins de 1700 em Inglaterra, o
país que dominava o comércio de escravos. Homens e mulheres corajosos e
dicididos opunham-se aos negreiros, mostravam a verdadeira face desse comércio
e conseguiram fazer da escravatura uma das grandes lutas políticas do tempo.
Em 1807 a
Inglaterra proibiu finalmente o comércio de escravos em navios britânicos. À
armada britânica foram dadas ordens para abordar os navios dos negreiros
britânicos, confiscar os barcos e libertar todos os escravos os quais na
generalidade eram levados para Sierra Leone na costa ocidental de África. Pouco
tempo depois, a armada britânica passou também a atacar os navios negreiros de
todos os outros países. Como resultado, o comércio de escravos transoceânico
diminuiu notávelmente durante o século de 1800, embora só viesse a acabar nas
primeiras décadas de 1900.
A
proibição da escravatura foi uma parte do desenvolvimento da sociedade humana.
Por um lado foi muito importante a atividade desenvolvida pelas pessoas que se
dedicaram a combater a escravatura e o comércio de escravos. Por outro lado a
transformação dos processos de produção na maior parte dos países da Europa
exigia um outro sistema social nos países produtores de matérias primas.
Esta
grande transformação foi feita em primeiro lugar na Inglaterra, um país agora
industrialisado com grande necessidade de matérias primas e grandes mercados
para vender os seus productos. O triângulo do comércio, com latifundiários e
escravos, deixou de ter importância para as novas indústrias em Inglaterra.
Raptar milhões de pessoas, transporta-las pelo Atlântico para depois as vender,
já não era negócio interessante para banqueiros e capitalistas. O importante
era obter matérias primas para as industrias fabricantes de produtos baratos
para vender em todo o mundo. E de onde viriam as matérias primas?
No
princípio do século de 1800, a resposta a esta questão de uma importancia
fundamental para o desenvolvimento dos países europeus, era em grande parte
desconhecida. Agora sabemos que as matérias primas mais importantes existem em
África, mas nessa altura este conhecimento era quase inexistente.
A
exploração de África começou a ser preparada nos fins de do século de 1700 em
especial pela British African Association formada em 1788 com o fim específico
de investigar o interior do continente africano, desenvolver o comércio e
apoiar a igreja cristã em África. As actividades das missões cristãs começaram
também com a formação da British Church Missionary Society em 1804. A acção
missionária começou nas costas de África, não havendo quase nenhum sítio
desconhecido dos missionários no fim de século de 1800.
Os
missionários das igrejas cristãs eram na realidade quem maior conhecimento
tinha das pessoas e riquezas no interior de África e das matérias primas
intressantes para a Europa. Foi através desses missionários que os capitalistas
europeus obtiveram as informações necessárias para alcançar as fontes de
matérias primas. Nessa altura, na segunda metade do século XIX, começaram a ser
preparados em todas as capitais europeias planos imperialistas para ocupar
extensas regiões em África, dando origem a alianças e ameaças de guerra entre
as nações europeias. Tudo era possivel por um pedaço de terra de África!
Nos fins
do século XIX iniciou-se a ocupação de África em grande escala. Todos os países
europeus queriam os melhores bocados para si mesmos causando confrontos graves
e aventurando toda a empresa imperialista europeia. Nesta ocasião a invasão do
Congo pelo rei da Belgica Leopoldo II, foi determinante para o futúro de
África.
Leopoldo
II já tinha obtido várias estações de comércio nas margens do rio Congo, mas
não se dando por satisfeito com a exploração enviou tropas para ocupar uma
região enorme na África Central, o Congo Kinshasa de hoje, como sua propriedade
pessoal. A esta região que era 75 vezes maior que o reino da Belgica, foi dado
o nome de Estado livre do Congo, um país em que não existiriam fronteiras nem
alfândegas para os europeus interessados em aí fazer negócio.
Conferencia Berlim 1884-1885.
Os países imperialistas europeus dividem a África.
A
ocupação do Estado livre do Congo causou discórdia com outros imperialistas que
exigiam direitos iguais e mostrou a necessidade de um pacto que establecesse
uma determinada ordem no processo imperialista. O ministro de estado alemão
Bismarque tomou então a iniciativa de organizar uma Conferência dos estados
europeus em Berlim 1884-1885 onde participaram a Inglaterra, França, Alemanha,
Italia, Portugal, Espanha e o rei belga Leopoldo II a título pessoal.
Um dos
resultados da Conferncia foi que o rei Leopoldo II conservou o Estado livre do
Congo como sua propriedade pessoal. A confereência decidiu também a divisão da
África pelos países representados, o que foi feito com uma régua em cima do
mapa unindo pontos determinados simplesmente por longitude e latitude sem a
mínima consideração, dos diferentes povos, nacionalidades, culturas ou
condições geográficas. Em muitas fronteiras entre os estados Áfricanos ainda
hoje se vê a ”política da régua” da Conferência de Berlim. Uma outra desisão da
Conferência foi que nenhum país europeu podia ocupar novas regiões sem primeiro
informar os outros e obter a sua aprovação.
O rei Leopoldo II
da Belgica fez do Congo a sua propriedade pessoal e iniciou uma exploração sem limites na qual milhões de
pessoas perderam a vida
Assim
começou a ocupação massiva de África feita por exércitos bem equipados e
armados com armas modernas, vindos de todos os lados, entrando em todos os
países e destruindo e eliminando sem piedade qualquer tipo de oposição. Depois
de 400 anos de comércio de escravos a estrutura das sociedades africanas estava
muito fraca em quase todos os lados e os africanos não tinham quase nenhumas
possibilidades de defender os seus países. O comércio de escravos não tinha
implicado sómente o desaparecimento de pessoas jovens, as esperanças do
desenvolvimento e do futúro. O comércio de escravos produziu também uma
estagnação no desenvolvimento da produção em África. A causa desta estagnação foi
a monopolização do comércio africano pelos europeus e a consequente diminuição
do comércio com produtos africanos uma vez que pessoas feitas escravas era só o
que os europeus aceitavam nas trocas comerciais.
Depois da
ocupação de África, a classe dominante europeia submeteu os povos africanos a
uma exploração e opressão sem precedentes, por vezes pior que o comércio de
escravos. Todos os colonialistas dos países europeus tomaram parte nesta barbaridade
sem terem grandes problemas. E quando dizemos todos os colonialistas significa
todos! Desde as velhinhas belgas com muito boa educação, dos ingenheiros
inglêses com qualificações universitárias, dos tenentes franceses bem
perfumados, dos investigadores alemães de línguas, dos camponeses senhoriais
portuguêses, até aos soldados, polícias, padres e missionários de todos os
países da Europa.
Congo Belga – 10 milhões assassinados!
Para dar
ao leitor uma visão concreta do que foi a colonização da África, vou deixar
aqui o testemunho do missionário sueco E. V. Sjöblom sobre a sua estadia no
Estado livre do Congo. A citação é longa mas necessária. Veja o leitor também
qual foi a reação de Sjöblom aos acontecimentos que presenciou, relacionados
com a recolha obrigatória do caucho, o látex da borracha.
”Continuando o meu caminho fui saudando os
indigenas amigávelmente. Como habitualmente consegui afastar o medo e, pelo
menos em parte, ganhar a sua afecção. Alguns jovens seguiram-me e quando
chegámos ao acampamento já lá estávam um grande grupo de pessoas. Outros
indígenas iam voltando do trabalho de ir buscar cauchu à floresta. Pouco tempo
passado estavam já várias centenas de pessoas reunidas à minha frente.
De repente um dos soldados – também indígena mas
de outra aldeia – agarrou um homem de idade e amarrou-o. O soldado virou-se
para mim e disse:
-
Eu vou matar este homem
porque ele não trousse nenhum cauchu.
Eu respondi: Na realidade eu não tenho nada a vêr
com isso e não tenho direito de te impedir. Mas eu desejaria que tu não o
fizesses na minha presença, quando estão tantas pessoas aqui para ouvir a
palavra de Deus.
Ele respondeu: Se nós não matamos os que vêm sem
cauchu, os oficiais do estado livre matam-nos a nós. É melhor matarmos outros
do que sermos mortos.
Assim que ele disse isto, dirigiu-se ao homem
velho como um tigre atiçado. Arrastou-o alguns passos para fora do grupo,
apontou a espingarda à cabeça do homem e matou-o. De seguida pôs outra bala na
espingarda e apontou ao grupo de pessoas que desapareceu rápidamente. Estava
com medo de ser atacado e queria meter medo aos que estavam reunidos.
Durante alguns minutos estivemos todos calados. O
grupo tinha fugido e eu e os meus homens estávmos calados. Em seguida o soldado
mandou um menino de nove anos cortar a mão direita do morto. Esta mão com
muitas outras mãos, que tinham sido decepadas pelo mesmo motivo, tinham que ser
entregues ao comissário como um sinal da vitória da civilização”.
A razão
desta coleção de mãos decepadas é que por cada cartucho utilizado pelos
soldados tinha que ser entregue uma mão direita decepada aos oficiais do
exército do Estado livre do Congo. Nenhuma bala podia desaparecer, todas tinham
que ter um equivalente em mãos decepadas. Às vezes acontecia que os soldados se
utilizavam das espingardas na caça e para darem conta das balas aos oficiais,
agarravam uma pessoa viva i cortavam-lhe a mão direita. Dezenas de milhares de
cartuchos sem balas eram entregues regularmente aos oficiais do estado livre
com o mesmo número de mãos direitas decepadas de pessoas mortas ou vivas.
Cada cartucho utilizado, uma mão a entregar
Escravatura total das pessoas no Congo
Mas o
número de mortos era maior do que as mãos entregues. As crianças eram muitas
vezes assassinadas pelos soldados a golpe de pancada com as espingardas. No ano
de 1919 uma comissão oficial belga chegou à conclusão que a população do Estado
livre do Congo-Congo Belga, tinha diminuido para metade depois da ocupação
europeia em 1884. Uma diminuição para metade em 35 anos! Trata-se de pelo menos
10 milhões de pessoas mortas!
Os
soldados inculpados neste morticíno estavam incluídos numa força especial de
legionários negros comandada por corpo de oficiais branco sob as ordens do
general-major Emile Janssen. Janssen deu ordem aos chefes das aldeias de lhe
mandarem ”os piores elementos”, os quais foram incorporados com uma ”disciplina absoluta” durante um periodo
de sete anos, uma lavagem ao cérebro com o nome de ”Boula Matari”, ou seja o nosso rei ”soverano na Belgica e no Congo, dois reinos unidos para sempre”.
Segundo o
próprio general-major Janssen esses homens eram treinados para terem uma
lealdade absoluta para com o rei e o país colonizador. Segundo ele tinham ”todos os meios desponiveis sido utilizados:
escolas, jornais, radio, apoio social, control da polícia politica G2, oficiais
de inteligencia e informação” nesta lavagem cerebral.
O rei Leopoldo II
da Belgica ficou rico com a mais desumana exploração
dos seres humanos em África.
Durante a
segunda guerra mundial aumentou a repressão e a exploração colonial do povo do
Congo que foi obrigado a pagar as dividas de guerra da Belgica. Citamos agora o
senhor Goddin, Secretário colonial do governo belga em exilio em Londres
durante a segunda guerra mundial. ”Durante
a guerra, o Congo pagou todos os custos do governo belga em Londres, incluindo
os do serviço diplomático e os custos das nossas forças armadas na Europa e em
África, num total de 40 milhões de libras inglêsas. Com os recursos do Congo o
governo belga em exilio em Londres nunca precisou de pedir um shilling ou um
dolar emprestado e as reservas de ouro belgas foram totalmente conservadas”.
Os
acontecimentos no Estado livre do Congo não são episódios locais, foram
repetidos em todas as ocupações coloniais independetemente de qual o país
europeu que tinha o poder. O conceito dos colonialistas sobre os povos
colonizados exprime-se nas palavras do general alemão von Trotha sobre a
repressão aos povos Herero e Nama na África do Sul, que von Trotha comandou às
ordens do milionário alemão Lüderitz.
von
Trotha escreveu o seguinte sobre a exterminação dos Herero e Nama:
”Eu conheço bem estas tribos Áfricanas. São todas
iguais. Só respeitam a força. Mostrar essa força com um terror brutal ou até
mesmo cruel foi e é o meu dever. Eu extermino as tribos revoltadas com
correntes de sangue e dinheiro. Só assim poderá crescer algo novo, algo que
ficará para o futúro”.
Depois de quinhentos
anos!
”Os brancos só nos deram
guerra e miséria”
No ano de
1441 chegaram os primeiros europeus em barco, ao continente Áfricano a sul do
deserto do Sahara. Depois desta data o continente Áfricano sofreu modificações
profundas que o seus povos não poderam decidir ou dominar. O povo Pendel, que é
original da costa de Angola e que foi obrigado no século XVI a fugir dos
portuguêses para o interior, para perto do rio Kasai, conserva nas suas
tradições a memória da conquista portuguesa. ”Desde esses dias até aos dias de
hoje os brancos só nos trousseram guerra e miséria”. Sem dúvida um
juizo simples e justo da exploração europeia de África.
Mas hoje
os tempos modaram-se radicalmente. Depois de quinhentos anos de exploração e
repressão é chegado o momento de os africanos travarem a luta final para tomarem
o poder do seu continente!
O
capitalismo mundial não quer perder o control de África e tudo fará para
impedir o desenvolvimento das sociedades em África. Mas os ventos de mudança
são fortes e não é possivel travar a luta de libertação de África contra o
colonialismo e o neocolonialismo!
Herois da libertação da África
Amilcar Cabral Samora
Machel Agostinho
Neto
Mário
Sousa/1997
mario.sousa@telia.com
Bibliografia
Basil
Davidson
Mãe
Negra, 1978. (Black Mother, 1961)
África in
History, 1968
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The
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Can
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Charles
R. Boxer
The
Portuguese Seaborne Empire 1415-1825, 1969
Race
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Walter
Rodney
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África and the Atlantic Slave-Trade, 1967
How
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José
Capela
Escravatura.
Conceitos. A Empresa de Saque, 1978
Imposto
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O Vinho
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Moçambique
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Ludo
Martens
Pierre
Mulele ou la second vie de Patrice Lumumba, 1985
Zurara
Crónica
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Younès
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