Mentiras
sobre a história da União Soviética.
De
Hitler e Hearst a Conquest e Solzjenitsyn!
História dos supostos milhões de presos e mortos nos
campos de trabalho e pela fome na União Soviética no tempo de Stáline.
Neste mundo em que vivemos, quem
consegue escapar às terriveis histórias
de mortes suspeitas e assassinios nos campos de trabalho Gulag na União
Soviética? Quem consegue escapar às histórias de milhões de mortos pela fomes e
de milhões de opositores executados na União Soviética no tempo de Stáline? No
mundo capitalista repetem-se estas histórias
em livros, jornais, radio, televisão e filme numa quantidade infinita e
o mito de dezenas de milhões de vitimas que o socialismo teria causado tem
crescido sem limites nos últimos cinquenta anos.
Mas na realidade, de onde vêm
estas histórias e estes números? Quem é que está por detrás disto?
E outra pergunta: o que há de verdade
nessas histórias? Por exemplo, qual é a informação existente nos arquivos da
União Soviética, anteriormente secretos, mas abertos por Gorbatchov à
investigação histórica em 1989? Segundo os inventores dos mitos, todas as
histórias de milhões de mortos na União Soviética de Stáline se confirmariam no
dia em que os arquivos fossem abertos. Foi o que aconteceu? Foi confirmado?
O artigo que segue mostra-nos de
onde vêm e quem está por detrás das histórias dos milhões de mortos pela fome e
nos campos de trabalho na União Soviética de Stáline. O autor do texto, depois
de ter estudado o resultado das investigações feitas nos arquivos da União
Soviética dá-nos também informação em
dados concretos sobre o verdadeiro número de presos, anos de prisão e o verdadeiro
número de mortos e de condenados à morte na União Soviética de Stáline. A
realidade é bem diferente do mito!
O autor do texto, Mário Sousa, é
militante do partido comunista, KPML(r) na Suécia. O artigo foi escrito em
sueco para o jornal do partido, Proletären - O Proletário - onde foi publicado
em Abril de
Em linha recta através da
história - de Hitler e Hearst a Conquest e Solzjenitsyn.
No ano de
A Ucrânia como uma parte do
espaço alemão.
Ao lado de Hitler no comando da
Alemanha estava o ministro da propaganda, Goebells, o máximo responsável para
incutir o sonho nazi no povo alemão. Este era o sonho do povo da raça pura
vivendo numa Grande Alemanha, um país com um grande "lebensraum", um
grande espaço para viver. Uma parte deste "lebensraum", uma área
muito maior do que a Alemanha, iria ser conquistada no Este e incorporada na
nação alemã. Em 1925 no livro Mein Kampf já Hitler tinha indicado a Ucrânia
como uma parte integrante do espaço alemão. A Ucrânia e outras regiões no Este
da Europa iriam pretencer à nação alemã para poderem ser utilizadas de uma
maneira "correta". Segundo a propaganda nazi, a espada alemã iria
libertar essa terra para dar lugar ao arado alemão! Com técnica alemã e
empresas alemãs a Ucrânia iria ser transformada na terra produtora de cereais
da Alemanha! Mas primeiro teriam os alemães que libertar a Ucrânia do seu povo
de "seres humanos inferiores", os quais, segundo a propaganda nazi,
seriam utilizados como força de trabalho escrava nas casas, fábricas e
agriculturas alemãs, em todos os lugares onde a economia alemã necessitasse
deles.
A conquista da Ucrânia e de
outras regiões da União Soviética implicava necessáriamente guerra contra a
União Soviética, o que era necessário preparar a longo termo. Para esse efeito
o ministério de propaganda nazi, chefiado por Goebbels, iniciou em 1934 uma
campanha sobre um suposto genocídio feito pelos bolcheviques na Ucrânia, uma
terrivel catastrofe de fome que teria sido provocada por Stáline para submeter e
obrigar os camponeses a aceitar a politica socialista. O objetivo da campanha
nazi era de preparar a opinião pública mundial para a "libertação" da
Ucrânia pelas tropas alemãs. Apesar de grandes esforços e embora alguns textos
da propaganda alemã fossem públicados na imprensa inglêsa, a campanha nazi
sobre o "genocídio" na Ucrânia não teve grande susseço a nível
mundial. Era evidente que Hitler i Goebbels necessitavam de ajuda para espalhar
as calúnias sobre a União Soviética. A ajuda foi encontrada nos Estados Unidos
da América!
William Hearst, um amigo de
Hitler.
William Randolph HEARST é o nome
do multimilionário americano que veio ajudar os nazis na guerra psicologica
contra a União Soviética. Hearst é o redactor americano conhecido como sendo o
"pai" da chamada imprensa amarela, a imprensa sensacionalísta.
William Hearst começou a carreira de redactor em 1885, quando o seu pai George
Hearst, milionário da indústria mineira, senador e redactor, lhe deu a chefia
do jornal São Francisco Daily Examiner. Assim começou também o império
jornalistico de Hearst que de uma maneira definitiva iria deixar marcas
profundas na vida e nos conceitos dos norteamericanos. Depois da morte do pai,
William Hearst vendeu todas as acções da indústria mineira que herdou e começou
a investir o capital no mundo jornalistico. A primeira compra que fez foi o New
York Morning Journal, um jornal de tipo tradicional que Hearst transformou
totalmente num jornal sensacionalístico. As notícias eram compradas a qualquer
preço e quando não havia crueldades ou crimes violentos para contar cabia aos
jornalistas i fotógrafos "arranjar" o assunto. É justamente esta a
marca da "imprensa amarela", a mentira e a crueldade arranjada e
servida como verdade.
As mentiras de Hearst fizeram
dele milionário e pessoa importante no mundo jornalístico, sendo em 1935 um dos
homens mais ricos do mundo com uma fortuna avaliada em 200 milhões de dolares.
Depois da compra do Morning Journal, Hearst continuou a comprar e fundar
jornais diários e semanários por todos os EUA. Na década dos anos 40, William
Hearst era proprietário de 25 jornais diários, 24 semanários, 12 estações de
radio, 2 serviços de noticias mundiais, um serviço de notícias para filme, a
empresa de filme Cosmopolitan e muito mais. Em 1948 comprou uma das primeiras
estações de televisão dos EUA, a WBAL-TV
Os conceitos de William Hearst
eram extremamente conservativos, nacionalistas e anti-comunistas. A sua
politica era a politica da extrema direita. Em 1934 fez uma viagem à Alemanha
onde foi recebido por Hitler como convidado e amigo. Depois desta viagem os
jornais de Hearst tornaram-se ainda mais
reacionários, sempre com artigos contra o socialismo, contra a União Soviética
e em especial contra Stáline. Hearst tentou também utilizar os seus jornais
para fazer propaganda nazi abertamente,
com uma série de artigos de Göring, a mão direita de Hitler. No entanto os
protestos de muitos leitores obrigaram-no a parar a publicação e retirar os
artigos.
Depois da visita a Hitler os
jornais sensacionalistas de Hearst vinham cheios de "revelações"
sobre acontecimentos terríveis na União Soviética como assassinios, genocídios,
escravidão, luxo para os governantes e fome para o povo, sendo estas as grandes
"notícias" diárias. O material era dado a Hearst pela Gestapo, a
policia política da Alemanha nazi. Nas primeiras páginas dos jornais havia
muitas vezes caricaturas och imagens falsas da União Soviética onde Stáline era
retratado como um assassino de faca na mão. Não esqueçamos que estes artigos
eram lidos diariamente por 40 milhões de pessoas nos Estados Unidos e milhões
de outras em todo o mundo!
Uma das primeiras campanhas da
imprensa de Hearst contra a União Soviética foi sobre os supostos milhões de mortos,
vitimas da fome na Ucrânia. A campanha iniciou-se em 18 de fevreiro de 1935 no
jornal Chicago American com um titulo na primeira página, "Seis milhões de
mortos de fome na União Soviética". Utilizando material vindo da Alemanha
nazi começou assim o simpatizante do nazismo e magnata da imprensa William
Hearst a publicar histórias fantásticas sobre um genocidio provocado pelos
bolcheviques com muitos milhões de mortos de fome na Ucrânia. A realidade era
bem diferente. O que se tinha passado na União Soviética no principio da década
de 1930 foi uma grande luta de classes em que os camponeses pobres e sem terra
se levantaram contra os grandes agrários ricos, os kulaks, e iniciaram a luta
pelos colectivos agricolas, os kolchozes. Esta grande luta de classes que
envolvia directa ou indirectamente 120 milhões de camponeses causou
instabilidade na produção agrícola e em algumas regiões falta de produtos
alimentares. A falta de comida enfraquecia as pessoas, o que contribuiu para um
aumento de vitimas de epidemias infecciosas. Este tipo de epidemias era nessa
altura um acontecimento tristemente comum no mundo. De
Os artigos na imprensa de Hearst
sobre os milhões de mortos de fome na Ucrânia que tinha sido "provocada
pelos comunistas" eram detalhados e terriveis. A imprensa de Hearst
utilizou tudo ao seu alcançe para fazer da mentira realidade, provocando a
opinião pública nos países capitalistas a voltar-se fortemente contra a União
Soviética. Assim se originou o primeiro grande mito dos milhões de mortos na
União Soviética. Na vaga de protestos contra a fome "provocada pelos
comunistas" que se seguiu na imprensa ocidental ninguém quiz escutar os
desmentidos da União Soviética, sendo o completo desmascaramento das mentiras
da imprensa de Hearst em 1934, adiado até 1987! Durante mais de 50 anos e na
base destas calunias, várias gerações de pessoas em todo o mundo foram levadas
a formar uma visão negativa do socialismo e da União Soviética.
William Hearst morreu em 1951 na
sua casa
52 anos para desmascarar uma
mentira!
A campanha de desinformação dos
nazis sobre a Ucrânia não morreu com a derrota da Alemanha nazi na segunda
guerra mundial. As mentiras nazistas foram retomadas pela CIA e pelo MI5
britânico e tiveram sempre um lugar garantido na guerra de propaganda contra a
União Soviética. As campanhas anticomunistas de McCarthy nos EUA, depois da
segunda guerra mundial, também viveram à custa dos "milhões de mortos de
fome da Ucrânia". Em 1953 foi publicado um livro nos EUA sobre este tema,
com o titulo "Black Deeds of the Kremlin" (Os feitos negros do
Kremlin). A publicação foi paga por refugiados ucranianos nos EUA, gente que
tinha colaborado com os nazis na segunda guerra mundial a quem o governo
americano deu asilo político apresentando-os ao mundo como democratas.
Quando Reagan foi eleito
presidente dos EUA e iniciou a sua campanha anticomunista na década de 1980, renovou-se
a propaganda dos "milhões de mortos na Ucrânia". Em 1984 um professor
da Universidade de Havard editou um livro com o titulo de "Human life in
Rússia" (Vida humana na Rússia) em que estava incluido o material falso da
imprensa nazi de Hearst de 1934. Em 1984 foram assim reeditadas as mentiras e
falsificações nazistas dos anos 30 mas agora com a capa respeitável de uma
universidade americana. Mas a história não fica por aqui. Já em 1986 saiu mais
um livro sobre o tema, com o titulo "The Harvest of Sorrow", escrito
pelo anterior agente da policia secreta britanica Robert Conquest que é hoje
professor da Universidade de Stansfort na California. Pelo "trabalho"
com o livro Conquest recebeu 80.000 dolares da Ukraina National Association. A
mesma assossiação pagou também um filme feito em 1986, o "The Harvest of
Despair", em que, entre outras coisas, se utilizou o material de Conquest.
Nesta altura já os números apresentados nos EUA dos "mortos de fome na
Ucrânia" iam em 15 milhões de pessoas!
No entanto os milhões de mortos
de fome na Ucrânia apresentados na imprensa americana de Hearst e a sua
utilização em livros e filmes era material completamente falso. O jornalista
canadiano Douglas Tottle demonstrou rigorosamente essa falsificação no seu
livro "Fraud, Famine and Fascism, The Ukrainian Genocide Myth from Hitler
to Havard" editado em Toronto em 1987. Entre outras coisas Tottle mostrou
que o material fotográfico apresentado, fotografias horriveis de crianças
esfomeadas, foi tirado de publicações do ano de 1922 numa altura em que milhões
de pessoas morreram na guerra e de fome, quando oito exércitos estranjeiros
invadiram a União Soviética durante a guerra civil de 1918 - 1921. Douglas
Tottle apresenta também os factos sobre a reportagem da fome, feita em 1934 e
demonstra a mixórdia de mentiras publicadas na imprensa de Hearst.
O jornalista que durante muito
tempo tinha enviado reportagens e fotografias das chamadas zonas da fome, um
certo Thomas Walter, nunca tinha estado na Ucrânia, mas apenas estado em
Moscovo durante cinco dias. Este facto foi revelado pelo jornalista Louis
Fischer, o então correspondente de Moscovo do jornal americano The Nation.
Fisher revelou também que o jornalista M. Parrott, o verdadeiro correspondente
em Moscovo da imprensa de Hearst, tinha enviado a Hearst reportagens que nunca
foram publicadas, sobre as ceifas com muito bons resultados em 1933 na União
Soviética e sobre uma Ucrânia soviética
A imprensa de Hearst com uma
posição monopolista em muitas cidades nos EUA e com agencias de notícias em
todo o mundo foi o grande megafone da Gestapo. Num universo dominado pelo
capital monopolista foi possivel à imprensa de Hearst transformar as mentiras
da Gestapo em verdades e faze-las sair em muitos jornais, estações de radio e
mais tarde na televisão em todo o mundo. Quando a Gestapo desapareceu,
continuou a guerra suja da propaganda contra o socialismo e a União Soviética,
agora com a CIA como patrão. As campanhas anticomunistas na imprensa americana
continuaram na mesma escala. "Business as usual" - negócio como
sempre, primeiro a Gestapo, depois a CIA.
Robert Conquest - o centro dos
mitos.
Este homem ampliamente citado na
imprensa burguesa, um verdadeiro oráculo para a burguesia, merece aqui uma
apresentação muito concreta. Robert Conquest é um dos autores que mais tem
escrito sobre os "milhões de mortos na União Soviética", na realidade
o verdadeiro "pai" de quase todos os mitos e mentiras sobre a União
Soviética difundidos depois da segunda guerra mundial. Conquest é conhecido
principalmente pelos seus livros "O grande terror" de 1969 e
"Harvest of Sorrow" (Colheita de amargura) de 1986. Conquest escreve
sobre milhões de mortos de fome na Ucrânia, nos campos de trabalho Gulag e
durante os processos de
O estilo nos livros de Conquest
é de um anticomunismo violento e fanático. No livro de 1969 diz-nos Conquest
que o número de mortos na fome na União Soviética nos anos 1932-33 foi de
milhões de pessoas, metade delas
na Ucrânia. Mas em 1983, durante a campanha anticomunista de Reagen, já
Conquest aumentava os anos de fome até 1937 e os mortos até 14 milhões! Tal
declaração valeu-lhe um trabalho bem pago quando em 1986 foi escolhido por
Reagen para escrever o material do livro da campanha presidencial com o fim de
preparar o povo americano para uma invasão soviética... O livro chama-se
"Que fazer quando os russos vierem, um manual de sobrevivencia"! Um
trabalho estranho para um professor de história...
Na realidade isto não é estranho
para um homem que em toda a sua vida tem vivido à custa de mentiras e histórias
inventadas sobre a União Soviética e Stáline, primeiro como agente da polícia e
depois como escritor e professor da Universidade de Stansfort na California. O
passado de Conquest foi exposto no jornal The Gardian em 27 de Janeiro de 1978
num artigo que o apontava como um ex-agente do departamento de desinformação
IRD - Information Research Departement, do serviço secreto inglês. O IRD foi
uma secção iniciada em 1947 (com o nome inicial de Communist Information
Departement) tendo como tarefa principal combater a influencia dos comunistas
em todo o mundo através de "plantar" histórias escolhidas no seio dos
politicos, jornalistas e todos os que influenciavam a opinião pública.
As actividades do IRD eram muito
amplas, tanto em Inglaterra como no exterior. Quando o IRD teve que ser
formalmente extinto em 1977, por causa de contactos com a extrema direita,
verificou-se que, só em Inglaterra, mais de 100 dos jornalistas mais conhecidos
tinham pessoalmente um contacto com um agente do IRD que regularmente dava ao
"seu" jornalista material para os artigos a escrever. Isto era rutina
nos grandes jornais ingleses tais como o Financial Times, Times, Observer,
Sunday Times, Telegraph, Ekonomist, Daily Mail, Mirror, Express, Guardian e
outros. Os factos apresentados pelo jornal The Gardian dão-nos assim uma
indicação de como a policia politica dirige as noticias que chegam ao grande
público.
Robert Conquest foi agente da
IRD desde o começo desta secção da policia secreta e até 1956. O
"trabalho" de Conquest era escrever as chamadas "histórias
negras" sobre a União Soviética, histórias falsas consideradas como
factos, a serem distribuidas a jornalistas e outras pessoas com infuencia na
opinião pública. Depois de ter formalmente deixado a IRD, Conquest continuou a
escrever textos propostos pela IRD e com o apoio dessa polícia. O seu livro
"O grande Terror", livro básico da direita sobre os "milhões de
mortos" durante a luta partidária na União Soviética em 1937, é na
realidade um compilado de textos que ele secreveu durante a sua vida como
agente da IRD. O livro foi acabado e publicado com o apoio da IRD. Um terço dos
livros impressos foram comprados pela editorial Praeger que normalmente é
conhecida por publicar literatura com origem na policia politica americana, a
CIA. O livro de Conquest tem sido utilizado para ser dado como presente aos
chamados "idiotas úteis", a professores universitários e a gente que
trabalha na imprensa, radio e televisão, para garantir que as mentiras de
Conquest e da extrema direita continuem a ser espalhadas por grandes camadas da
população. Conquest é ainda hoje uma das fontes mais importantes onde os
históriadores de direita vão buscar material sobre a União Soviética.
Uma outra pessoa sempre
associada a livros e artigos de jornal sobre supostos milhões de mortos e
presos na União Soviética é o russo Alexander Solzhenitsyn. Solzhenitsyn
tornou-se conhecido no mundo capitalista nos fins dos anos 60 com o seu livro
"O arquipelago do Gulag" sobre a situação dos presos nos campos de
trabalho na União Soviética. Ele mesmo esteve preso oito anos condenado por
actividades contrarevolucionárias em 1946 por ter distribuido propaganda contra
o povo da União Soviética. Segundo Solzhenitsyn a luta contra a Alemanha nazi
na segunda guerra mundial tinha sido uma luta desnecessária e todos os
sofrimentos impostos ao povo soviético pelos nazis podiam ter sido evitados se
o governo soviético tivesse feito um compromisso com Hitler. Solzhenitsyn
acusou também o governo soviético e Stáline de serem ainda piores que Hitler e,
como ele dizia, pelos terríveis resultados da guerra para o povo da União
Soviética. Solzhenitsyn não escondia a sua simpatia pelos nazistas. Foi
condenado como traidor.
Solzhenitsyn começou em
Nos Estados Unidos, Solzhenitsyn
foi convidado muitas vezes para fazer interverções em reuniões importantes. Ele
foi por exemplo o principal orador no congresso dos sindicatos AFL-CIO em 1975
e em 15 de Julho de 1975 foi convidado para fazer um discurso sobre a situação
no mundo no Senado dos EUA! Os discursos de Solzhenitsyn eram de uma agitação
violenta e provocativa, argumentando e fazendo propaganda pelas ideias mais
reacionárias. Entre outras coisas bateu-se por novos ataques ao Vietnam depois
da vitória deste sobre os EUA. E mais: depois de 40 anos de fascismo em
Portugal, quando os oficiais do exército de esquerda, tomaram o poder na
revolução popular de 1974, Solzhenitsyn começou a fazer propaganda por uma
intervenção militar dos EUA em Portugal, que, dizia ele, iria ser membro do
tratado de Varsóvia se os EUA não intrevissem! Nos seus discursos, Solzhenitsyn
lamentava sempre a libertação das colónias portuguesas em África.
Mas é claro que o ponto
principal dos discursos de Solzhenitsyn era sempre a guerra suja contra o
socialismo. Desde execuções supostas de milhões e milhões de pessoas na União
Soviética até às dezenas de milhares de americanos presos e escravisados que
Solzhenitsyn dizia existirem no Vietnam do Norte! Foi esta ideia de
Solzhenitsyn de americanos utilizados como escravos no Vietnam do Norte que deu
origem aos filmes Rambo sobre a guerra do Vietnam. Os jornalistas americanos
que tinham ousado escrever sobre paz entre os EUA e a União Soviética eram
acusados por Solzhenitsyn nos seus discursos como sendo traidores potenciais.
Solzhenitsyn fazia também propaganda por um aumento da capacidade militar dos
EUA contra a União Soviética, que ele dizia ser mais poderosa em "tanques
e aviões, de cinco a sete vezes mais que os EUA" e em armas atómicas que
"em breve" seriam "duas, três e por fim cinco" vezes mais
potentes que as dos EUA. Os discursos de Solzhenitsyn nos EUA eram a voz da
extrema direita, mas ele iria ainda mais longe, mais à direita, em apoio
público ao fascismo.
Em apoio do fascismo de Franco.
Depois da morte de Franco em 1975
o regime fascista espanhol começou a perder o controle da situação politica e
no começo de 1976 os acontecimentos em Espanha tomaram um carácter tal que
cativou a opinião pública mundial. Greves e demonstrações exigiam democracia e
liberdade e o herdeiro de Franco, o rei Juan Carlos, foi obrigado a iniciar uma
liberalisação muito cuidadosamente, para acalmar a agitação social. Ora neste
momento importante para a vida politica espanhola, aparece Alexander
Solzhenitsyn em Madrid e dá uma entrevista ao programa "Directisimo"
um sábado á noite, em 20 de Março, na melhor hora televisiva (jornais ABC e Ya
de 21 de Março de 1976). Solzhenitsyn que tinha recebido as perguntas
préviamente, utilizou a oportunidade para fazer todo o tipo de declarações reaccionárias.
A sua inteção não foi de dar um apoio à chamada liberalisação do rei. Ao
contrário, Solzhenitsyn prevenia as pessoas contra as reformas democráticas!
Na sua intervenção na televisão
declarou que "Cento e dez milhões de russos morreram vítimas do socialismo"
e comparou "a escravidão a que estavam submetidos os soviéticos à
liberdade que se disfrutava em Espanha". Solzhenitsyn acusou também os
"círculos progressistas" de "utópicos" por considerarem
Espanha como uma ditadura. Os progressistas eram toda a oposição democrática de
liberais a socialdemocratas e comunistas. "No Outono passado" disse
Solzhenitsyn, "a opinião pública mundial estava preocupada com a sorte dos
terroristas espanhois. ( Os cinco antifascistas condenados à morte e executados
pelo regime de Franco, nota do autor MS) Cada vez mais a opinião pública
progressista exige reformas políticas imediatas, ao mesmo tempo que apoia os
actos terroristas". "Os que querem reformas democráticas rápidas,
saberão o que virá a suceder amanhã ou depois de amanhã? A Espanha, amanhã
poderá ter democracia, mas depois de amanhã, saberá não cair no totalitarismo
depois da democracia?" Às perguntas cuidadosas dos jornalistas se tais
declarações não podiam ser vistas como um apoio a regimes de países onde não
existia liberdade respondeu Solzhenitsyn que "Eu conheço somente um sítio
onde não há liberdade, esse sítio é a Rússia". As declarações de
Solzhenitsyn na televisão espanhola foram um apoio directo ao fascismo
espanhol, uma ideologia que ele ainda hoje apoia.
Esta é uma das razões porque
Solzhenitsyn desapareceu cada vez mais dos discursos públicos durante os seus
18 anos de exilio nos EUA e uma das causas porque os governos capitalistas não
lhe dão total apoio politico. Para os capitalistas foi uma benção dos céus
poder utilizar um homem como Solzhenitsyn na guerra suja contra o socialismo,
mas tudo tem os seus limites. Na nova Rússia capitalista o que dicide o apoio
do mundo ocidental aos grupos politicos é pura e simplesmente a possibilidade
de fazer bons negócios com bons lucros ao abrigo da política desses grupos. O
fascismo como alternativa política para a Rússia não é considerado como
politica que estimule os negócios. Por isso o projecto politico de Solzhenitsyn
para a Rússia é letra morta no que diz respeito a apoio do mundo ocidental. É
que Solzhenitsyn quer como futuro político para a Rússia a volta do regime
autoritário dos Czares em ligação com a igreja tradicional russa-ortodoxa! Nem
os imperialistas mais arrogantes estão interessados a apoiar uma estupidez
politica deste calibre. Para encontrar apoio a Solzhenitsyn no mundo ocidental
há que rebuscar na idiotia intelectual da extrema direita.
Assim são eles, os mais dignos
representantes dos mitos burgueses dos "milhões de mortos e presos na
União Soviética" - o nazi William Hearst, o agente da policia Robert
Conquest e o fascista Alexander Solzhenitsyn. Conquest tem tido o papel
principal, sendo as suas informações utilizadas pelas massemedias capitalistas
em todo o mundo e formando inclusivamente uma escola dentro de certas
universidades. O trabalho de Conquest é sem dúvida um trabalho de desinformação
policial de primeira classe. Na década de 1970 Conquest teve uma grande ajuda
de Solzhenitsyn e de uma série de figuras de segunda com Andrei Sakharov e Roy
Medvedev. Além disso apareceu um pouco por todo o mundo uma série de
especuladores em mortos e presos a quem a imprensa burguesa sempre pagou a
preço de ouro. Mas a realidade dos factos foi por fim apresentada e mostra a
verdadeira cara de todos estes falsificadores da história. A ordem de
Gorbatchov para abrir os arquivos secretos do partido à investigação histórica
teve consequencias que ninguém podia previr.
Os
arquivos mostram as mentiras da propaganda.
A especulação sobre milhões de
mortos na União Soviética é uma parte da guerra suja de propaganda contra a
União Soviética e por isso mesmo os desmentidos e esclarecimentos oficiais dos
soviéticos nunca foram levados a sério e nunca tiveram lugar na imprensa capitalista.
Eram, pelo contrário, alvo de troça, enquanto que aos "especialistas"
comprados pelo capital foi dado todo o espaço requerido para difundirem as suas
fantasias. Que fantasias eram realmente! O que os milhões de mortos e presos
proclamados por Conquest e outros "criticos" têm de comum, é que são
producto de apróximações estatísticas falsas e métodos de avaliação sem base
cientifica.
Metodos falsos dão milhões de
mortos.
Conquest, Solzhenitsyn, Medvedev
e outros utilizaram-se de estatística publicada pela União Sovética, por
exemplo escrutínios nacionais da população, aos quais adicionaram um suposto
aumento populacional sem ter em conta a situação real existente no país. Assim
chegaram à conclusão de quantas pessoas deveria de haver no país no final de
certos anos. As pessoas que faltavam eram apresentadas como mortos e presos à
conta do socialismo. Um método simples mas totalmente falso. Este tipo de
"revelação" de acontecimentos políticos tão importantes nunca
passaria se a "revelação" fosse sobre o mundo ocidental. Nesse caso
teria havido com toda a certeza professores e historiadores que se levantariam
contra tal falsificação. Mas como o que estava em causa era a União Soviética,
a falsificação tem passado. Um dos motivos é certamente o de que professores e
históriadores põem as possibilidades de avançar na carreira profissional em
primeiro lugar e só muito depois a honra profissional.
Segundo Robert Conquest (numa
avaliação feita em 1961) tinham morrido 6 milhões de pessoas de fome na União
Soviética no principio dos anos 30. Este número foi aumentado por Conquest para
14 milhões em 1986. No que diz respeito aos campos de trabalho Gulag, estavam
ali detidos, segundo Conquest, 5 milhões de presos em 1937, antes das
depurações no partido no exército e no estado terem começado. Depois das
depurações começarem, vieram segundo Conquest, durante 1937-38, mais 7 milhões
de presos o que faz um resultado de 12 milhões de presos nos campos de trabalho
em 1939! E não esqueça o leitor que estes 12 milhões do Conquest são SOMENTE os
presos politicos! Nos campos de trabalho havia também criminosos de delito
comum, os quais, segundo Conquest seriam em número muito maior que os presos
politicos. Isto significa que, segundo Conquest havia cerca de 25-30 milhões de
presos nos campos de trabalho na União Soviética.
Também segundo Conquest foram
executados em 1937-39 um milhão de presos politicos enquanto que 2 milhões
morreram à fome. Resultado final das depurações de 1937-39 segundo Conquest, 9
milhões de presos politicos e 3 milhões de mortos! Estes números foram em
seguida submetidos a "apreciações estatísticas" por Conquest para
concluir que os bolcheviques tinham morto nada menos que 12 milhões de presos
políticos entre 1930 e 1953. Juntando esses números aos mortos de fome nos anos
30, chega Conquest à conclusão de que os bolchviques haviam morto 26 milhões de
pessoas. Numa úlitma apreciação estatística diz Conquest que em 1950 havia 12
milhões de presos politicos na União Soviética!
Alexander Solzhenitsyn utilizou
mais ou menos as mesmas apreciações estatísticas que Conquest. Mas usando os
metodos pseudo-científicos com outras premissas, chega ainda a conclusões mais
extremas. Solzhenitsyn aceita os
numeros de Conquest de 6 milhões de mortos na fome de 1932-33; no entanto, com
respeito às depurações de 1936-39 considera que morreram no mínimo 1 milhão por
ano! Fazendo um resumo diz-nos Solzhenitsyn que desde as coletivações da
agricultura até à morte de Stáline em 1953, tinham os comunistas morto 66
milhões de pessoas na União Soviética. Além disso aponta o governo soviético
como culpado pela morte de 44 milhões de russos que ele afirma terem morrido na
segunda guerra mundial. A conclusão de Solzhenitsyn é que "110 milhões de
russos morreram vítimas do socialismo". No que diz respeito a presos
diz-nos Solzhenitsyn que o número de pessoas nos campos de trabalho em 1953 era
de 25 milhões!
Gorbatchov abre os arquivos.
A colecção de números fantásticos
acima apresentada, um produto de fantasias muito bem pagas, tem saído na
imprensa burguesa desde os anos 60, tendo esses números sempre sido
apresentados como factos verdadeiros obtidos na base de métodos científicos.
Por detrás desta falsificação estão as policias políticas ocidentais,
principalmente a americana CIA e a
inglesa MI5. O impacto dos massmedias na ópinião publica é tão grande que os
números hoje são ainda considerados verdadeiros em grandes camadas das
populações dos países ocidentais. Esta situação penosa tem piorado. Na própria
União Soviética onde Solzhenitsyn e outros criticos conhecidos, como Andrei
Sacharov e Roy Medvedev, não encontravam nenhum apoio para os números
fantásticos, houve uma mudança significativa em 1990. Na nova "imprensa
livre" durante Gorbatchov, tudo o que se opunha ao socialismo era
apresentado como positivo, o que teve consequencias desastrosas. Uma inflação
sem igual começou a aumentar a quantidade de mortos e presos durante o
socialismo, que agora se misturavam num só grupo de dezenas de milhões de
"vitimas" dos comunistas.
A histeria na nova imprensa livre de Gorbatchov
levou por diante as mentiras de Conquest e Solzhenitsyn. Ao mesmo tempo foram
abertos por Gorbatchov os arquivos do Comité Central para investigação
histórica, o que era exigido pela imprensa livre. A abertura dos arquivos do
Comité Central do Partido Comunista é na realidade a questão central desta
história confusa, isto por duas razões. Em parte porque nos arquivos se
encontram todos os factos que podem esclarecer a verdade. Mas ainda mais
importante porque todos os especuladores de mortos e presos na União Soviética
têm dito durante anos e anos que no dia em que os arquivos se abrissem os
números por eles apresentados seriam confirmados! Todos os especuladores em
mortos e presos afirmaram que assim seria, todos: Conquest, Solzhenitsyn,
Sacharov, Medvedev e os demais. Mas quando os arquivos foram abertos e os
estudos dos documentos existentes começaram a ser publicados, aconteceu uma coisa
muito estranha.
De repente já nem a imprensa livre de
Gorbatchov nem os especuladores em presos e mortos estavam interessados nos
arquivos!Os resultados das investigações feitas nos arquivos do Comité Central
pelos historiadores russos Zemskov, Dougin e Xlevnjuk que se começaram a
publicar em 1990 em revistas cientificas, passaram totalmente desapercebidos!
Os relatórios com os resultados das investigações históricas iam contra a
corrente da inflação em mortos e presos da imprensa livre mas permaneceram desconhecidos.
Os relatórios foram publicados em revistas cientificas de pouca venda
práticamente desconhecidas do grande público. Os relatórios cientificos não
podiam concorrer com a histeria da imprensa, ganhando as mentiras de Conquest e
Solzhenitsyn o apoio de muitas camadas da população na União Soviética, hoje
Rússia. Também no ocidente, os relatórios dos investigadores russos sobre o
sistema correccional durante Stáline, passaram sem noticías de primeira página
ou reportagens na televisão. Porquê?
Os relatórios da investigação do
sistema correctivo soviético são expostos num trabalho com cerca de 9 000
páginas. Os investigadores que escreveram os relatórios são vários sendo os
mais conhecidos os históriadores russos V.N. Zemskov, A.N. Dougin e O.V.
Xlevnjuk. O seu trabalho foi começado a publicar em 1990 estando em 1993
praticamente acabado e totalmente publicado na Rússia. Os relatórios da
investigação chegaram ao conhecimento do ocidente em colaboração com
investigadores de diversos países ocidentais. Os dois trabalhos conhecidos pelo
autor deste texto, são o trabalho apresentado em França na revista L'Histoire
em Setembro de 1993 por Nicolas Werth, chefe investigador do instituto francês
de investigação cientifica, CNRS, (Centre National de
Existem também hoje em dia
livros sobre o assunto escritos pelos investigadores acima mensionados ou por
outros investigadores dos mesmos grupos de investigação. Antes de entrarmos no
assunto quero deixar aqui esclarecido para que não haja confusão futura, que
nenhum dos cientistas envolvidos nestes trabalhos tem uma visão socialista do
mundo, mas sim um compreesão burguesa e antisocialista, muitas vezes bastante
reaccionária. Isto dito para que o leitor não pense que o que se vai expor é
produto de uma "conspiração comunista". O que acontece quando os
investigadores acima citados, desfazem completamente as mentiras de Conquest,
Solzhenitsyn, Medvedev e outros, é que o fazem simplesmente pelo facto de que
põem a honra profissional em primeiro lugar e não se deixam comprar para
efeitos de propaganda.
Os relatórios de investigação
russos dão resposta a uma quantidade muito grande de perguntas sobre o sistema
correcional soviético. Para nós é o tempo de Stáline que é o mais interessante
para estudar, é aí que está a causa da discução. Nós pomos algumas perguntas
muito concretas e procuramos as respostas no material das revistas L'Histoire
(L'H) e The American Historical Review (AHR). Esta será a melhor maneira de pôr
em debate algumas das partes mais importantes do sistema correccional
soviético. As perguntas são as seguintes:
1. O que era o sistema correccional
soviético?
2. Qual era o número de presos,
"politicos" e de delito comum?
3. Quantos mortos houve nos
campos de trabalho?
4. Quantos foram os condenados à
morte até 1953 e em especial durante as depurações
de 1937-38?
5. Qual era em geral o tempo de
prisão?
Depois de termos respondido às 5
perguntas, pomos em discussão as penas impostas aos dois grupos mais debatidos
quando a questão dos presos e mortos na União Soviética se põe, nomeadamente os
kulakos condenados em 1930 e os contrarevolucionários de 1936-38.
Começemos com a pergunta 1 sobre
o sistema correcional soviético. Depois de 1930 o sistema correcional soviético
compreendia prisões, campos de trabalho e colónias de trabalho do Gulag, zonas especiais abertas e pagamento de
multas. Aquele que recebesse voz de prisão era geralmente colocado numa prisão
normal enquanto se faziam as investigações que poderiam demonstrar a sua
inocencia e dar-lhe liberdade ou levar o caso a julgamento. O acusado levado a
julgamento podia ser considerado inocente e ganhar a liberdade ou caso fosse
julgado culpado condenado a uma pena de multa, prisão ou em casos mais raros,
pena de morte. A pena de multa
podia ser uma certa percentagem
do salário durante um certo tempo. Os acusados julgados a pena de prisão podiam
ser postos em diferentes tipos de prisão dependendo do tipo de crime.
Para os campos de trabalho Gulag
iam os criminosos de crimes graves (homicidio, roubo, violação, crimes
económicos, etc.) e uma grande parte dos condenados por actividades
contrarevolucionárias. Outros criminosos com pena superior a três anos podiam
também ser postos em campos de trabalho. Depois de um tempo num campo de
trabalho o preso podia ser mudado para uma colónia de trabalho ou uma zona
especial aberta. Os campos de trabalho eram zonas muito grandes onde os
condenados viviam e trabalhavam debaixo de um grande controlo. Trabalhar e não
ser um peso para a sociedade era coisa evidente, nenhuma pessoa saudavel
passava sem trabalhar. Pode ser que alguém hoje em dia pense que isto é
terrivel, mas esta era a realidade. O número de campos de trabalho era de 53 em
1940. As colónias de trabalho do Gulag eram 425, unidades muito mais pequenas
que os campos de trabalho e com um regime mais livre e com menos controlo. Para
aí iam os presos com penas de prisão mais pequenas, tanto de delito comum ou
políticos, trabalhando em liberdade em fábricas e na agricultura que eram uma
parte da economia da sociedade civíl. Na maioria dos casos o salário desses
trabalhos revertia por inteiro ao condenado, em igualdade com os outros
trabalhadores. As zonas especiais abertas eram em geral zonas agrícolas para as
quais eram exilados os kulakos que tinham sido expropriados durante a
colectivação. Outros condenados por penas menores ou actividades
contrarevolucionárias podiam também cumprir as penas nestas zonas.
454 mil e não 9 milhões!
Segunda pergunta. Qual era o
número de presos "politicos" e de delito comum? A questão inclúi os
presos nos campos de trabalho e nas colónias de trabalho do Gulag e nas
prisões, ainda que tendo em conta que a privação da liberdade nas colónias de
trabalho era na maioria dos casos reduzida. Vejamos os números do quadro abaixo
do material da AHR respeitante ao periodo de vinte anos a começar em 1934
quando o sistema correcional foi reunido numa administração central e até 1953
quando Stáline morreu.
Tabela de The American
Historical Review
Da tabela acima há uma série de
conclusões a tirar. Para começar podemos comparar os números da tabela com os
de Robert Conquest. Este diz-nos que em 1939 havia 9 milhões de presos
politicos nos campos de trabalho e que 3 milhões mais tinham morrido durante o
periode de 1937-39. Não esqueça o leitor que os números de Conquest se referem
apenas a presos políticos! Além desses, diz-nos Conquest que havia os presos de
delito comum que segundo ele eram em muito maior número que os
"políticos". Em 1950 havia segundo Conquest 12 milhões de presos
politicos! Com os factos na mão podemos ver agora o falsificador que este
Conquest na realidade é. Não há um único número que corresponda à realidade. No
ano de 1939 havia em todos os campos, colónias e prisões cerca de 2 milhões de
presos. Desses eram 454 mil condenados por crimes politicos e não 9 milhões
como Conquest afirma. Os mortos nos campos de trabalho de
Deixemos agora os falsificadores
e façamos uma análise concreta das estatisticas do Gulag. A primeira questão
que se põe é o que pensar do número de pessoas no sistema correccional. Que
significado tem o número mais alto de 2,5 milhões? Cada pessoa posta em prisão
é um testemunho de que a sociedade ainda não se desenvolveu para poder dar a cada
cidadão o necessário para uma vida positiva. Vendo as coisas desta maneira são
os 2,5 milhões uma nota negativa para a sociedade.
A ameaça interna e externa.
Mas ao número de pessoas abrangidas
pelo sistema correccional tem que ser dada uma explicação mais concreta. A
União Soviética era um país que recentemente tinha deixado o feudalismo e a
herança social no que diz respeito ao valor humano era muitas vezes um peso
para a sociedade. No sistema antigo com os Csares, os trabalhadores eram
obrigados a viver numa miséria profunda e a vida humana não tinha muito valor.
Roubos e crimes violentos eram punidos com uma violencia sem limites. Revoltas
contra a monarquia acabavam usualmente com massacres, condenações à morte e
penas de prisão muito grandes. Estas relações sociais e a maneira de pensar com
elas relacionada leva muito tempo a mudar, tendo isto influenciado o
desenvolvimento da sociedade na União Soviética e também a criminalidade no
país.
Outro factor a ter em conta é
que a União Soviética, um país que nos anos trinta tinha cerca de 160-170
milhões de habitantes, estava fortemente ameaçada por potencias estrangeiras.
Na base das grandes mudanças politicas na Europa na década de 1930, vinha a
principal ameaça de guerra da Alemanha nazi, ameaça contra a sobrevivencia dos
povos eslavos, constituindo também as democracias ocidentais um bloco com
intenções intervencionistas. Esta situação muito séria foi resumida por Stáline
em 1931 com as seguintes palavras "Estamos atrasados entre
Durante este tempo muito dificil
na União Soviética havia como máximo 2,5 milhões de pessoas no sistema
correcional ou seja 2,4 % da população adulta. Como se poderá avaliar este
número? É muito ou pouco? Façamos uma comparação.
Mais presos nos EUA.
Por exemplo nos Estados Unidos
da América, um país com 252 milhões de habitantes em 1996, o país mais rico do
planeta que consome sózinho 60% dos recursos mundiais, quantas pessoas há no
sistema correcional? Qual é a situação neste país que não é ameaçado por nenhuma
guerra e onde não existem mudanças sociais que possam ameaçar a estabilidade
económica? Numa notícia (bem pequena) nos jornais em Agosto de 1997, do serviço
de noticias FLT-AP dizia-se que nos EUA "Nunca anteriormente tinham
existido tantas pessoas no sistema correcional como 5,5 milhões em 1996".
Isto representa um aumento de 200 mil pessoas desde 1995 o que faz com que o
número de criminosos nos EUA "seja 2,8% da população adulta". Estes
dados vêm todos do departamento de justiça norteamericano. O número de pessoas
condenadas como criminosas nos EUA é hoje superior em 3 milhões ao que foi o
máximo na União Soviética! Na União Soviética houve no máximo 2,4% da população
adulta condenada por crime - nos EUA estão condenados 2,8% e a quantidade
continua a crescer! Segundo um comunicado à imprensa do departamento de justiça
dos EUA de 18 de Janeiro de 1998, aumentou o número de presos nos EUA em 1997
com 96.100 pessoas.
E no que diz respeito aos campos
de trabalho soviéticos é verdade que era um regime duro e dificil para os
presos, mas veja-se bem como é hoje a situação nas prisões nos EUA onde por
todo o lado existe violencia, drogas, protituição e escravatura sexual (290.000
violentados por ano nas prisões dos EUA). Ningém se sente em segurança nas
prisões nos EUA! Isto num tempo moderno na sociedade mais rica de sempre!
Um factor importante - falta de
medicamentos.
Respondamos agora à pergunta
número 3. Quantos foram os mortos nos campos de trabalhos? Os casos de morte
nos campos de trabalho variaram nuito de ano para ano, de 5,2% em
Vejamos agora a pergunta número
4. Quantos foram os condenados à morte até 1953 e em especial durante as
depurações de 1937-38? Já vimos os números de Robert Conquest de 12 milhões de
presos politicos que os bolcheviques teriam matado nos campos de trabalho de
Mas os documentos dos arquivos
soviéticos agora publicados dão-nos uma informação diferente. É preciso dizer
em primeiro lugar que os números dos condenados à morte se encontram em vários
arquivos e que os investigadores para nos darem um resultado aproximativo são
obrigados a recolher dados desses arquivos com um certo risco de contagem dupla
e portanto de darem um número maior de o que foi na realidade. Segundo Dmitrii
Volkogonov, o chefe dos anteriores arquivos soviéticos nomeado por Jeltsin,
foram condenados à morte 30 514 pessoas por tribunais militares de 1 de Outubro
de
A conclusão a que podemos chegar
é de que o número de condenados à morte em 1937-38 foi de cerca de 100 mil e
não de vários milhões como tem sido apresentado na propaganda ocidental. É
preciso também ter em conta que nem todos os condenados à morte na União
Soviética eram executados. Uma grande parte passava a pena de prisão nos campos
de trabalho. Também é importante fazer uma diferença entre criminosos de delito
comum e contrarevolucionários. Muitos dos condenados à morte eram criminosos
condenados por crimes violentos como assassínio ou violação. Este tipo de crime
era há sessenta anos penalizado com sentença de morte numa grande parte dos
países do mundo
Pergunta número 5 - Qual era em
geral o tempo de prisão? O tempo de prisão dos condenados é uma das questões em
que os rumores da propaganda ocidental têm sido dos piores. A descrição geral é
de que estar preso na União Soviética significava anos sem conta na prisão -
quem para lá entrava já não saía. Isto é completamente falso! A grande maioria
dos presos no tempo de Stáline, na realidade foram condenados no máximo a 5
anos de prisão!
A estatistica de AHR dá-nos
factos concretos. Os criminosos de delito comum na Federação russa em 1936
receberam as seguintes penas de prisão - até 5 anos, 82,4% - de
As
mentiras sobre a União Soviética.
Uma
breve discussão sobre os relatórios dos investigadores.
As investigações dos históriadores russos revelam
uma realidade totalmente diferente da que tem tem sido ensinada nas escolas e
universidades do mundo capitalista durante os últimos cinquenta anos. Durante
esses cinquenta anos de guerra fria têm várias gerações aprendido só mentiras
sobre a União Soviética e isto tem deixado marcas profundas em muitas pessoas.
Este facto constatado também se verifica nos relatórios dos investigadores
franceses e americanos. Nestes relatórios são-nos dados números e tabelas de
presos e mortos, discutindo-se esses números num trabalho de grande amplitude.
Mas o principal e mais importante, isto é, os crimes praticados pelos presos,
nunca é alvo de uma discussão séria! A propaganda política dos capitalistas
tem-se referido sempre aos presos na União Soviética como sendo vítimas e os
investigadores utilizam este termo sem pôr em questão a sua veracidade. Quando
os investigadores passam das colunas de estatística aos comentários sobre os
acontecimentos, vêm as conceções burguesas à luz e o resultado é por vezes
macabro. Os condenados no sistema correcional soviético são chamados vítimas,
mas o facto é que a maioria eram ladrões, assassinos, violadores, etc.
Criminosos deste calibre nunca seriam tratados como "vitimas" na
imprensa se os crimes fossem cometidos na Europa ou nos EUA. Mas como os crimes
foram cometidos na União Soviética tudo é possivel. Chamar "vítima" a
um assassino ou violador que repete o crime é coisa muito suja. Uma tomada de
posição pela justiça soviética no que diz respeito aos criminosos de delito
comum condenados por crimes violentos deveria de ser consequente, senão no tipo
de pena pelo menos na questão da condenação do crime.
No que diz respeito aos
contrarevolucionários é também importante discutir os crimes de que foram
acusados. Discutamos dois exemplos para mostrar o fundo da questão, em primeiro
lugar os koulaks condenados no começo da década de 1930 e depois os conjurados
e contrarevolucionários condenados em 1936-38. Segundo os relatórios publicados
sobre os koulaks, os camponeses ricos, foram 381 mil familias ou seja cerca de
1,8 milhões de pessoas condenadas a exílio. Uma pequena parte dessas pessoas
foi condenada a penas nos campos de trabalho ou em colónias de trabalho. Mas
qual foi a causa da condenação desses koulaks?
O camponês rico russo, o koulak,
sujeitou os camponeses pobres durante centenas de anos a uma opressão sem
limites e a uma exploração sem considerações. Dos 120 milhões de camponeses em
1927, viviam 10 milhões de koulaks na abundancia e os restantes 110 milhões
ainda na pobreza - antes da revolução na mais completa das misérias. A riqueza
dos koulaks vinha do trabalho mal pago aos camponeses pobres. Quando os
camponeses pobres se começaram a juntar em colectivos agricolas desapareceu a
principal fonte de riqueza dos koulaks. Mas os koulaks não desistiram, tentando
retomar a exploração através da fome. Grupos de koulaks armados atacavam os
colectivos agrícolas, matavam camponeses pobres e funcionários do partido,
deitavam fogo aos campos e matavam os animais de trabalho. Provocando a fome
entre os camponeses pobres os koulaks tentavam garantir a continuação da
pobreza e da sua posição de poder. Os acontecimentos que se sucederam não foram
o que os assassinos tinham pensado. Desta vez os camponeses pobres foram
apoiados pela revolução e mostraram-se mais fortes do que os koulaks, os quais
foram derrotados, presos e condenados a exílio ou a penas em campos de
trabalho.
Dos 10 milhões de koulaks foram
1,8 milhões condenados. Houve talvez injustiças nesta enorme luta de classes
nos campos soviéticos que contava com 120 milhões de pessoas. Mas poderemos
acusar os pobres e os oprimidos, na sua luta por uma vida que valha a pena
viver, na sua luta para que os filhos não viessem a ser analfabetos com fome,
de não serem civilizados ou clementes nos seus juizos? Podem-se acusar os que
durante centenas de anos nunca tiveram acesso aos avanços da civilização de não
serem civilizados? E digam-nos, quando foi a classe exploradora dos koulaks
civilizada ou clemente para com os camponeses pobres durante anos e anos de
exploração sem fim?
O nosso segundo exemplo, sobre
os contrarevolucionários condenados nos julgamentos de 1936-38 depois das
depurações no partido, exército e no aparelho estatal, tem raizes na história
do movimento revolucionário na Rússia. Milhões de pessoas participaram na luta
vitoriosa contra o Czar e a burguesia russa, vindo muitos deles a entrar para o
partido comunista. Entre todas essas pessoas havia infelizmente os que tinham
entrado para o partido por outras razões do que para lutar pelo poder
proletário e pelo socialismo. Mas a luta de classes era tal que muitas vezes
não havia tempo nem possibilidades para pôr à prova os novos militantes. Até
mesmo militantes de outros partidos que se diziam socialistas e que tinham
combatido o partido bolchevique foram aceites no partido comunista. A uma parte
desses novos militantes foram dados postos importantes no partido bolchevique,
estado e exército, tudo dependendo da sua capacidade individual para conduzir a
luta de classes.
Eram tempos muito dificeis para
o jovem estado soviético e a grande falta de quadros, ou simplesmente de
pessoas que soubessem ler, obrigava o partido a não fazer grandes exigências no
que diz respeito à qualidade dos novos militantes e quadros. De todos estes
problemas formou-se com o tempo uma contradição que dividiu o partido em dois
campos - de um lado os que queriam ir para a frente na luta pela sociedade
socialista, por outro lado os que consideravam que ainda não havia condições
para realisar o socialismo e que propunha uma politica socialdemocrática. A
origem desta últimas ideias vinha de Trotski que tinha entrado para o partido
comunista em Julho de 1917. Trotski foi com o tempo obtendo apoio de alguns dos
bolcheviques mais conhecidos. Esta oposição unida contra os ideais bolchiques
originais era uma das opções na votação partidária sobre a politica a seguir
pelo partido, realisada em 27 de Dezembro de 1927. Antes desta votação tinha
havido uma grande discussão partidária durantes vários anos e não houve duvida
quanto ao resultado. Dos 725 000 votos a oposição só obteve 6 000 - ou seja,
menos de 1% dos militantes do partido apoiaram a oposição unida.
Em consequencia da votação e uma
vez que a oposição trabalhava por uma política diferente da do partido, o
comité central do partido comunista decidiu expulsar do partido os principais
dirigentes da oposição unida. A pessoa central da oposição, Trotski, foi
expulso da União Soviética. Mas a história da oposição não acabou aqui.
Sinovjev, Kamenjev e Evdokimov fizeram pouco depois autocrítica, assim como
vários dos principais trotskistas como Pjatakov, Radek, Preobrajenski e
Smirnof. Todos esses foram novamente aceites como militantes do partido e
retomaram os seus trabalhos no partido e no estado. Com o tempo verificou-se
que as autocríticas da oposicão não eram uma expressão verdadeira, estando os
principais oposicionistas unidos do lado da contrarevolução cada vez que a luta
de classes endurecia na União Soviética. A maioria desses oposicionistas foi
expulso e readmitido mais umas duas vezes antes de se ter formado a situação
definitiva em 1937-38.
Sabotagem industrial.
O assassinio de Kirov em Dezembro
de 1934, o presidente do partido em Leninegrado e uma das pessoas mais
importantes do comité central, veio a dar origem à descoberta de uma
organização secreta que preparava uma conspiração para tomar posse da direção
do partido e do governo do país através de um acto violento. A luta politica
que tinham perdido em 1927 queriam agora ganhá-la através de violência
organizada contra o estado. A organização tinha uma rede de apoios no partido,
exército e aparelho estatal em todo o país, sendo as actividades mais
importantes sabotagem industrial, terrorismo e corrupção. Trotski, o principal
inspirador da oposição dirigia as actividades do estrangeiro. A sabotagem
industrial causava uma perda terrivel para o estado soviético, com um custo
económico enorme como por exemplo máquinas importadas que se estragavam sem
possivel reparação, e uma enorme baixa na productividade nas minas e fábricas.
Uma das pessoas que em 1939
descreveu o problema foi o engenheiro americano John Littlepage, um dos
especialistas estrangeiros contractados para trabalhar na União
Soviética.Littlepage trabalhou 10 anos na industria mineira soviética, entre
1927 e 1937, principalmente nas minas de ouro. No seu livro "In search of
Soviet gold" escreve, "Eu nunca tive interesse pela subtilidade das
manobras políticas na Rússia enquanto as podia evitar; mas tive que estudar o
que acontecia na indústria Soviética para poder fazer um bom trabalho. E estou
firmamente convencido de que Stáline e os seus colaboradores levaram muito
tempo até descobrir que os comunistas revolucionários descontentes eram os seus
inimigos mais perigosos". Littlepage escreveu também que a sua própria
experiência confirmava as declarações oficiais de que uma conspiração conduzida
do exterior se utilizava de uma grande sabotagem industrial como uma parte de
um processo para fazer cair o governo. Já em 1931 Littlepage tinha sido
obrigado a constatar isso durante um trabalho nas minas de cobre e chumbo no
Ural e no Kasaquistão. As minas eram uma parte do grande complexo de
cobre-chumbo cujo chefe máximo era Piatakov, o vice comissário do povo para a
indústria pesada. O estado das minas era catastrofal no que diz respeito à
produção e ao bem estar dos trabalhadores. A conclusão de Littlepage foi de que
havia uma sabotagem organizada proveniente da direção superior do complexo de
cobre-chumbo.
O livro de John Littlepage
dá-nos também a conhecer de onde a oposição trotskista recebia o dinheiro
necessário para pagar a actividade contrarevolucionária. Vários membros da
oposição secreta utilizavam os seus postos na União Soviética para aprovar a
compra de máquinas de certas fábricas no estrangeiro. Os produtos aprovados
eram de uma qualidade muito baixa mas eram pagos pelo governo soviético ao
preço mais alto. As fábricas estrangeiras davam à organização de Trotski no
estrangeiro o ganho económico de tais transações, em troca do qual Trotski e os
seus conjurados na União Soviética continuavam a fazer mais compras dessa
fábricas.
Roubo e corrupção.
Este procedimento foi constatado
por Littlepage em Berlin na primavera de 1931 quando da compra de elevadores
industriais para as minas. A delegação soviética era chefiada por Pjatakov,
sendo Littlepage o especialista encarregado de verificar a qualidade dos
elevadores e aprovar a compra. Littlepage descobriu a fraude com os elevadores
de má qualidade, inúteis para a União Soviética, mas quando comunicou o facto a
Pjatakov e aos outros membros da delegação soviética foi recebido de uma
maneira fria como se quisessem fugir aos factos e continuando a exigir que ele
aprovasse a compra dos elevadores. Littlepage não aprovou. Na altura pensou que
o que se passava era uma questão de corrupção pessoal e que os membros da
delegação recebiam subornos da fábrica de elevadores. Mas depois de Pjatakov,
no julgamento de 1937, ter confessado a sua ligação à oposição trotsquista,
Littlepage foi obrigado a constatar que o que ele tinha observado em Berlim era
muito mais do que corrupção a nível pessoal. O dinheiro em causa era destinado
ao pagamento das actividades da oposição secreta na União Soviética,
actividades essa que compreendiam sabotagem, terrorismo, subornos e propaganda.
Zinoviev, Kaménev, Piatakov,
Radek, Smirnof, Tomski, Boukharine e outros tão queridos à imprensa ocidental
burguesa, utilizavam-se dos postos que o povo soviético e o partido lhes tinha
dado, para roubar dinheiro ao estado, para que esse dinheiro fosse utilizado
pelos inimigos do socialismo no estrangeiro na sabotagem e no combate à
sociedade socialista na União Soviética.
Planos para golpe de estado.
O tipo do crime no que diz
respeito a roubo, sabotagem e corrupção é um crime sério, mas as actividade da
oposição iriam muito mais longe. A conspiração contrarevolucionária
preparava-se para tomar o poder com um golpe
de estado no qual toda chefia soviética seria eliminada,começando pelo
assassínio das pessoas mais importantes do comité central do partido comunista.
A parte militar do golpe de estado seria realisada por um grupo de generais
encabeçado pelo marechal Toukhatchevski. Segundo Issak Deutsher, o trotskista
que escreveu muitos livros contra Stáline e a União Soviética, o golpe de
estado seria iniciado com uma operação militar contra o Kremlin e contra as
tropas mais importantes nas grandes cidades como Moscovo e Leninegrado. A
conspiração era, segundo Deutscher, chefiada por Toukhatchevski em conjunto com
Gamarnik, chefe dos comissários politicos do exército, o general Iakir,
comandante de Leninegrado, o general Ouborévitch, comandante da academia militar
de Moscovo e o general Primakov um dos chefes da cavalaria.
O marechal Toukhatchevski era um
oficial do antigo exército czarista que depois da revolução se tinha passado
para o Exército Vermelho. Em 1930 cerca de 10% dos oficiais, ou seja cerca de
4500, eram antigos oficiais czaristas. Muitos deles nunca tinham deixado as
suas posições burguesas e esperavam na calada um oportunidade para lutarem por
elas. A oportunidade apareceu quando a oposição se preparava para dar um golpe
de estado. Os bolchviques eram fortes mas as conspirações civil e militar
também trataram de arranjar amigos fortes. Segundo a confissão de Boukharine no
julgamento publico em 1938, existia um acordo feito entre a oposição trotskista
e a Alemanha nazi, no qual grandes regiões, entre elas a Ucrânia, seriam dadas
à Alemanha nazi depois do golpe de estado contrarevolucionário na União
Soviética. Este era o pagamento exigido pela Alemanha nazi pelo apoio prometido
aos contrarevolucionários. Boukharin tinha sido informado deste acordo por Radek
que sobre a questão tinha recebido uma directiva de Trotski. Todos estes
conspiradores que tinham sido eleitos para altas posições, para chefiar,
administrar e defender a sociedade socialista, trabalhavam na realidade para
destruir o socialismo. Além do mais é preciso não esquecer que tudo isto se
passou no decénio de 1930 quando o perigo nazista crescia sem parar e os
exércitos nazistas punham a Europa a arder e preparavam uma invasão da União
Soviética. Os conspiradores foram condenados à morte como traidores em
julgamento público. Os culpados de sabotagem, terrorismo, corrupção, tentativa
de assassínio e que queriam dar uma parte do país aos nazistas não podiam
esperar outro fim. Chamar-lhes vítimas é um erro total.
Mais números mentirosos.
É intressante saber como a
propaganda ocidental, através de Robert Conquest, tem mentido sobre as
depurações no Exército Vermelho. Conquest diz no seu livro "O grande
terror" que em 1937 havia 70000 oficiais e comissários politicos no
Exército Vermelho e que 50% desses, ou seja 15.000 oficiais e 20000
comissários, tinham sido presos pela polícia política e que tinham sido
executados ou aprisionados para o resto da vida nos campos de trabalho. Nesta
afirmação de Conquest, aliás como em todo o livro, não existe nada de verdade.
O historiador Roger Reese no seu trabalho "The Red Army and the Great
Purges" dá-nos factos i mostra o verdadeiro significado que as depurações
de 1937-38 tiveram para o exército. O número de pessoas em posição de chefia no
Exército Vermelho e na aviação, ou seja oficiais e comissários politicos, era
de 144 300 em 1937 crescendo para 282 300 até 1939. Durante as depurações de
1937-38 foram despedidos 34300 oficiais e comissários por motivos politicos,
mas antes de maio de 1940 já 11596 tinham sido reabilitados e reintegrados nos
seus postos. Isto significa que durante as depurações de 1937-38 foram
despedidos 22705 oficiais e comissários politicos (cerca de 13000 oficiais do
exército, 4700 da aviação e 5000 comissários politicos) o que é 7,7% de todos
os oficiais e comissários e não 50% como Conquest diz. Desses 7,7%, foi uma
parte condenada como traidores, mas para a grande maioria o material histórico
à disposição indica terem passado à vida civil.
Uma última pergunta. Os
julgamentos de 1937-38 foram justos para com os acusados? Vejamos por exemplo o
julgamento de Boukharine, o funcionário mais alto do partido que trabalhava
para a oposição secreta. Segundo o embaixador americano em Moscovo nessa
altura, um conhecido advogado de nome Joseph Davies que esteve no tribunal
durante todo o julgamento, foi permitido a Boukharine falar livremente durante
todo o julgamento e expor o seu caso sem qualquer empedimento. Joseph Davies
escreveu para Washington que durante o julgamento se mostrou
que os acusados eram culpados
"dos crimes que se comprovaram" e que "A opinião geral entre och
diplomatas que assistiram ao processo é de que se provou a existencia de uma
conspiração muito grave".
Aprendamos com a
história!
A discussão do sistema correcional
soviético durante o tempo de Stáline, sobre o qual se têm escrito milhares de
artigos e livros mentirosos e se têm filmado centenas de filmes falsos, dá-nos
conhecimentos importantes. Os factos mostram-nos mais uma vez que as histórias
sobre o socialismo publicadas na imprensa burguesa são na sua maioria falsas. A
direita através da imprensa, radio e televisão que domina, pode confundir e
distorcer a realidade e fazer que grande quantidade de pessoas venham a
considerar mentiras declaradas como verdades. Isto é especialment verdade no
que se refere a questões histórica. Novas histórias da direita devem portanto
ser encaradas como falsas até que o contrário seja demonstrado.
Esta atitude cautelosa tem razão
de ser. O facto é que mesmo tendo conhecimento dos relatórios russos a direita
continua a reproduzir as mentiras que ensina há mais de 50 anos e que já foram
totalmente desmascaradas. A direita segue a sua herança histórica: uma mentira
repetida muitas vezes, acaba por ser dada como verdade. Depois dos relatórios
dos investigadores russos terem sido publicados no ocidente, começaram a ser
editados em vários países um número de livros, com a única finalidade de dar ao
esquecimento os relatórios russos e fazer com que as velhas mentiras venham a público
como verdades novas. São livros com boa apresentação, de capa a capa só com mentiras sobre o comunismo e o
socialismo.
As mentiras da direita são
repetidas para combater os comunistas de hoje! São feitas para que os
trabalhadores não encontrem uma alternativa ao capitalismo e ao neoliberalismo.
São uma parte da guerra suja contra os comunistas que têm uma alternativa para
o futuro, a sociedade socialista. Essa é a causa dos livros novos com mentiras
velhas.
Tudo isto impõe obrigações a
todos os que têm uma visão socialista da história. Cabe a nós tomar a
responsabilidade de trabalhar para fazer dos jornais comunistas, autenticos
jornais das classes trabalhadoras para dar combate às mentiras da burguesia!
Esta é sem dúvida uma missão importante na luta de classes de hoje que num
futuro próximo se desenvolverá com novas forças.
Mário Sousa
15/6/1998
mario.sousa@ telia.com